São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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O inacreditável PFL

LUÍS NASSIF

A sagacidade dos conservadores brasileiros é um dado histórico. Atravessaram da colônia para o império, anteciparam-se à abolição, chegaram à república, enfrentaram tenentes e Estado Novo, fizeram a revolução e a democratização, sem jamais deixar cair o cachimbo.
Tem-se agora, ao vivo e em cores, a demonstração didática de sua competência, com esse inacreditável PFL.
O partido nasceu da dissidência do regime militar, praticando o fisiologismo mais escancarado. O PFL era a Arena envergonhada e oportunista, que se bandeava para o novo regime, deixando com o PPR o ônus de representar a ditadura.
Foi bem-sucedido na ditadura, deu-se bem no populismo desregrado dos anos 80 e prepara-se para entrar com tudo na modernização que pinta no horizonte.
Nos anos 80, o grosso populismo e a falta de disposição de encarar o futuro fizeram com que os chamados partidos de oposição buscassem suas bandeiras em economistas que não ameaçassem o processo de apropriação do Estado.
Podia-se conservar o poder em cima de pacotes monetários de efeito eleitoral ou discursalhada contra a miséria, sem nenhuma proposta prática e sem nenhuma das tais ``reformas estruturais" -que foram sua bandeira nos tempos em que reformas estruturais ameaçavam apenas o poder dos adversários.
Agora, ingressa-se em outra etapa da vida nacional, onde leva quem apresentar propostas objetivas de despolitização do Estado, privatização, desregulamentação, reforço da economia de mercado e controle social sobre o Estado.

Perdendo o bonde
O PT poderia ter empunhado a bandeira do controle social sobre o Estado, se a burocracia do partido tivesse aberto espaço político aos seus prefeitos e deputados. Esses segmentos dispunham da melhor proposta modernizadora da esquerda, uma mistura eficiente de modernização, controle do Estado e preocupação social. Dançaram porque toda ação da burocracia partidária visa exclusivamente o jogo de forças interno, não o crescimento do partido.
O PMDB é uma caricatura de si mesmo. Para ele, cada dia nunca é mais, é sempre menos. Parece uma legião de náufragos, empenhada em devorar as últimas bananas disponíveis antes que o barco afunde de vez.
O PSDB está amarrado à falta de imaginação de seus pacoteiros. O último pacote permitiu-lhe vencer as eleições, mas é insuficiente para garantir-lhe o poder a longo prazo, por não conter um projeto de país. O partido tem nos ministros José Serra e Sérgio Motta as figuras políticas mais objetivas e com maior compromisso com mudanças. Mas falta ao partido malícia para o jogo político e clareza ideológica. Tem a faca e o queijo na mão, mas não tem o projeto.

Neomoderno
O PFL aproveitou o vácuo e renasceu das cinzas. Continuou abrigando fisiológicos, mas passou gradativamente a se preparar para os novos tempos. Encampou a bandeira da privatização com fundos sociais -prevista no chamado Plano K (que o PSDB recusou por pura ciumeira de seus pacoteiros)-, está se apropriando dos louros da vitória na aprovação das reformas e tem hoje em dia um dos mais fortes presidenciáveis para as próximas eleições -o presidente da Câmara, Luiz Eduardo Magalhães.
Bastou para tanto abrir a cabeça para os novos tempos e as novas idéias, deixar de lado o imediatismo e conter os impulsos fisiológicos. A partir dai, Jorge Bornhausen trouxe as idéias (através dos economistas Paulo Britto, Paulo Rabello e Paulo Guedes), Luiz Eduardo Magalhães e Marcos Maciel articularam o setor moderno do partido e ACM manteve sob controle o setor fisiológico.
O Marquês de Olinda está orgulhoso de seus filhos.

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