São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Ministro da Pesca é ídolo dos canadenses

El País
De Madri

ÁNGELES ESPINOSA

Quem não conhece Brian Tobin, depois da guerra do linguado? Carrasco dos pescadores espanhóis, mas herói entre seus compatriotas, o ministro canadense da Pesca e dos Oceanos saiu do anonimato para transformar-se em figura constante na imprensa e em dor de cabeça para os diplomatas europeus, pegos de surpresa por sua capacidade de projeção na mídia e pelo que muitos analistas vêem como sua manipulação da opinião pública internacional.
Envolto na bandeira do conservacionismo, o liberal de Newfoundland conseguiu que uma violação da legislação internacional, a captura de um barco civil desarmado em águas internacionais, se convertesse em vitória diplomática.
A conquista de direitos de inspeção para além de suas 200 milhas previstas na jurisdição se mostrou benéfica também no campo econômico (uma cota de pesca três vezes superior à de 1994).
Após ser eleito deputado em 1980, com apenas 25 anos, pelo distrito de Humber-St. Barbe-Baie Verte, em sua Newfoundland natal, Brian Tobin foi nomeado secretário parlamentar do então titular do Ministério da Pesca do Canadá, Pierre Debane.
Reeleito em 1988 e 1993, participou de vários comitês parlamentares, entre eles os da pesca, do emprego e da imigração.
Antes havia trabalhado brevemente como jornalista na rádio-televisão local, fato que não deixaria de constituir um dado em outras biografias, mas que no caso de Tobin deu lugar tanto a expressões de admiração quanto a acusações de manipulação. Tobin facilita o trabalho dos jornalistas.
Falador, inteligente e levemente agressivo, transformou suas aparições públicas durante o conflito pesqueiro num jogo dialético com os repórteres.
Assim, numa frase memorável, o ministro descreveu o linguado negro como ``o pequeno peixe que se agarra aos bancos de areia de Newfoundland com as unhas".
Mas até mesmo Tobin não teve como responder quando um dos jornalistas lhe perguntou se esperava que alguém acreditasse que os linguados têm unhas.
Cada entrevista coletiva que concede à imprensa constitui um espetáculo, que os meios de comunicação canadenses batizaram de ``o show de Tobin".
Ao anunciar o acordo com a União Européia, no último fim-de-semana, o ministro chegou precedido de tanta parafernália que o correspondente de um jornal francófono afirmou: ``Só estão faltando os efeitos sonoros!"
Ainda que faltasse o som das ondas como música de fundo, os mapas, gráficos e cuidadosos comunicados acompanhados de fotocópias coloridas que acompanharam sua declaração desarmaram até adversários mais acirrados.
Tobin comparece a todos os compromissos com sua ``lição de casa" devidamente aprendida.
Para isso o ``almirante" -título honorário obtido por aclamação popular durante a guerra do linguado- conta com uma ``armada" de cinco vice-ministros, 31 diretores-gerais e cerca de 3.000 funcionários no Ministério da Pesca e dos Oceanos.

Tradução de Clara Allain

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