São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Os Brasis

Completados dez meses desde a implementação do Plano Real, apesar dos vários sustos ao longo do caminho, o favorável desempenho da economia até aqui é inegável. Estão distantes, entretanto, as perspectivas de melhora nas gravíssimas condições sociais do país.
A recorrente instabilidade da economia brasileira e os novos desafios impostos por uma situação externa desfavorável estão sendo enfrentados. Mas a política econômica parece centralizar também as atenções que deveriam estar voltadas para a dura realidade que enfrenta grande parcela da população brasileira. Não se vê na agenda nada quanto aos pobres e miseráveis. Ou melhor, a agenda até existe, mas sua implementação não.
Superar uma situação econômica que há anos mostra-se sempre à beira do caos é sem dúvida uma precondição para tratar com eficiência dos demais males que assolam o país. Nesse aspecto, as reformas encaminhadas pelo governo indicam a possibilidade de superação de algumas das distorções de caráter institucional que prejudicam o desenvolvimento do país.
Esse processo de saneamento do setor público é fundamental para a estabilização, mas é desejável que seu alcance não se limite a objetivos econômicos. Além das disparidades sociais, o país tem também graves diferenças regionais. Não é novidade constatar que certas populações e regiões da nação vivem como que em eras distintas.
O desenvolvimento que torna parte dos centros urbanos brasileiros similares aos de países desenvolvidos contrasta de maneira abismal com o rudimentar e paupérrimo padrão de vida de algumas regiões do interior. Dentro mesmo das grandes cidades -lembrando que elas não se restringem aos bairros de classe média e alta-, a indigência, o subemprego, o analfabetismo, as favelas e os cortiços fazem com que convivam, ou melhor, não convivam populações cujo modo de ser é completamente diverso.
Se consolidada, a estabilização da economia será uma conquista inestimável. Mas o Brasil tem a obrigação de olhar de frente os desafios de maior justiça social sem o que não se poderá construir uma sociedade verdadeiramente estável.

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