São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Evitamos uma bobagem

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso comemora em Londres os 50 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.
Fomos o único país latino-americano a enviar tropas para lutar na Europa contra o nazismo. Um momento de orgulho da história brasileira.
Poderíamos estar lembrando também outra guerra, completando 20 anos, mas, ao contrário, motivo de vergonha.
Documentos inéditos da Casa Branca e do Departamento de Estado obtidos pela Folha revelam uma passagem até agora desconhecida sobre a Guerra do Vietnã -no Brasil, a única testemunha que participou diretamente do episódio e se lembra (mesmo assim não teve acesso aos documentos, timbrados como secretos) é o ex-presidente Ernesto Geisel.
Numa pressão que se iniciou nos primórdios de 1965, o presidente Lyndon Johnson queria que o Brasil entrasse na aventura do Vietnã, mandando soldados para a guerra. Uma guerra da qual os Estados Unidos sairiam derrotados há 20 anos.
A pressão tinha apelos: enquanto pedia soldados, os Estados Unidos abriam ao Brasil negócios, facilitavam exportações, reescalonavam dívidas.
A percepção do governo americano, segundo os documentos, é de que Castello Branco estaria ``pessoalmente" favorável a enviar tropas, mas não existiria clima dentro do Brasil. Portanto, escapamos de uma dolorosa autocrítica.
Uma autocrítica que atingiu neste ano seu ponto máximo nos Estados Unidos. O então secretário de Defesa, Robert McNamara, foi um dos principais estimuladores da guerra no Vietnã. Hoje confessa que há muito tempo eles sabiam que a guerra estava perdida -mesmo assim, continuaram mandando jovens para o Sudeste Asiático.
Ele conta que deveriam ter ido embora do Vietnã, no máximo, em 1964 -antes, portanto, da pressão para que o Brasil entrasse na guerra, o que aumentaria o número de vítimas de uma insensatez.

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