São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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ela é assim com os anjos

MARISA ADÁN GIL

uma autobiografia, uma biografia de Jesus e uma coleção completa com o ``bê-á-bá do esoterismo". Enquanto isso, arma o grande salto: um talk show diário na TV, com direito a entrevistas com magos, bruxas e iluminados.
Assunto não falta. Muito se discute sobre ``esoterismo" -a começar pelo próprio termo, que vem sendo usado para designar coisas tão diversas quanto a procura por terapias alternativas, as manias de duendes e anjos e os best-sellers de Paulo Coelho, Lair Ribeiro e da própria Mônica. Na verdade, esoterismo é, segundo o dicionário de Aurélio Buarque de Holanda, a ``doutrina ou atitude de espírito que preconiza que o ensinamento da verdade (científica, filosófica ou religiosa) deve reservar-se a número restrito de iniciados".
Para não-iniciados e público, o correto seria falar em ocultismo -este sim diz respeito ao ``estudo ou prática de artes divinatórias e de fenômenos que parecem não poder ser explicados pelas leis naturais".
Os livros de Mônica parecem escritos para crianças. Basta ver os termos: príncipes, gênios, anjos da guarda, pureza, maldade. Seus rituais de magia incluem escrever cartas (``em letra de fôrma e maiúscula") e aguardar prazos para ser atendido (dois dias, ``em média"). Nos livros, o fascínio pelos protetores alados é abastecido por uma colagem de referências -tiradas da Bíblia, de estudos hebraicos, tratados sobre o Egito, tarô, alquimia.... Pelo livro, é possível descobrir seu anjo da guarda (entre os 72 existentes), espelhar-se (ou não) nas suas características e fazer seu(s) pedido(s).
``Meus livros fazem sucesso por causa da facilidade da linguagem", declara Mônica, recurvada num sofá em sua nova oficina esotérica de 700 m2 de área construída no Alto da Lapa (zona oeste de São Paulo). Ela nega pretensão literária. ``Não sei escrever complicado. O importante é que as pessoas entendam."
Capeta em pessoa
Autodidata, deixou a faculdade de Direito ainda no primeiro ano. Vida universitária não estava nos seus planos. Com 12 anos, jogava búzios na casa do pai empresário, no Morumbi. Os búzios haviam entrado na sua vida aos 10: ``Foi uma coisa intuitiva, estourei um colar que a minha mãe havia comprado e comecei a jogar".
Uma amiga da mãe decidiu que Mônica era médium -espécie de porta-voz dos mortos no espiritismo-, e a levou para a umbanda e o candomblé. ``Me rasparam a cabeça. Passei a participar de rituais com sacrifício de animais, incorporava caboclo, fazia passes, fumava charuto. Adorava, era minha vida." Entre os 12 e os 16, não teve amigos, não brincou, não namorou.
``Nunca fui muito bonita, tinha muitos pêlos. Então, era uma desgraça total: macumbeira, peluda, feia, estrábica, era o capeta em pessoa." Namoro estava fora de questão. ``Era muito madura para minha idade, não tinha papo com os meninos."
Podia ser pior. E foi. Aos 17, teve uma briga feia com o pai (``ele vivia me exorcizando") e decidiu embarcar para a Bahia para ``encontrar as raízes". Não encontrou, mas chegou ao chão: dormia na rua, vivia de esmolas, passou fome. De volta a São Paulo, foi parar num grupo que pregava o ``voto de pobreza". Chão e esmolas, de novo, mas não por muito tempo. ``Aquilo era acomodação", analisa hoje.
Passou a se dedicar a uma oficina esotérica, que abriu entre os 18 e os 19 anos. Mergulhou de cabeça: estudou as diversas terapias e passou a realizar consultas, palestras e cursos -entre eles, um sobre anjos.
O dia seguinte
É maio de 94. Nos estúdios do SBT, Mônica aguarda o momento de ser entrevistada por Jô Soares. Televisão não é novidade para ela, que apresenta há seis anos um quadro dentro do programa ``Dia a Dia", na Bandeirantes.
Sua aparição no Jô visa divulgar um livro lançado há nove meses, sem repercussão. Na entrevista, descobre que o apresentador conhece o volume dos anjinhos rechonchudos

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