São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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ela é assim com os anjos

por Marisa Adán Gil

MARISA ADÁN GIL
NA CAPA. MELHOR, GOSTOU DO LIVRO.

No dia seguinte, o telefone toca sem parar. Começa a escalada de ``Anjos Cabalísticos", que em fevereiro passado chegou ao topo de vendas.
``Eu estava quieta no meu canto, fazendo meus livros, devendo no banco. Não tive culpa se, depois do Jô, o livro estourou". O ressentimento é dirigido aos que a chamam de charlatona, capaz de empurrar qualquer coisa pela goela do público a fim de ganhar alguns trocados -acusações que divide com os coleguinhas Paulo Coelho e Lair Ribeiro.
``Charlatães, nós temos em todas as profissões", diz ela, apoiada com ênfase por Urbano Valemzin. Marido, empresário e ``alma gêmea" de Mônica, é também mestre na hora de socorrer a parceira ou corrigir suas declarações. "Ele é meu ídolo, me ajudou muito."
No momento, concentra seus esforços em explicar o destino da fortuna ganha por Mônica -iria para doações e para a oficina, possibilitando a cobrança de preços baixos (um curso sobre anjos com três horas de duração custa R$ 17). Mônica aproveita a deixa e vai ao ataque. ``Dizem que eu exploro os anjos porque estou vendendo livros. Mas o Papa também vende os direitos autorais dele. Quem está explorando quem? "
"Vamos comprar"
O Vaticano não é o único alvo. Sobram farpas para Paulo Coelho, Lair Ribeiro e ocultistas em geral. ``Não gosto de superstições, não sou supersticiosa", diz, convicta. E o que seria superstição, exatamente? ``Essa coisa de duendes, por exemplo. Anjos não, é uma coisa mais...Não sei bem como explicar, é uma coisa muito forte, muito séria." Anjos e duendes dividem as mesmas pratelerias nos shoppings. ``Para algumas pessoas é moda, `vamos comprar'. Para nós é estudo. O esotérico está sempre `em busca de', seja pelo `I Ching', numerologia, gnomos, duendes. Mas ele não deve parar em nenhuma dessas coisas, senão fanatiza."
Se quisesse dinheiro, diz, teria aceito a proposta para assinar com a Rocco -que edita os livros de Paulo Coelho. Quis manter sua própria distribuidora, justifica. ``Ele disse que ia passar por cima com um trator". A idéia de dividir o espaço com o autor de ``Maktub" não chegou a entusiasmá-la.
``Acho que ele é um ótimo escritor...", começa. ``De mago ele não tem nada. É um homem inteligente, mas não entende muito de magia, não tem essa vivência que a gente tem. Me incomoda alguém que diz saber sobre magia não passar isso para as pessoas. Essa história de fazer chover, ele não precisava dessa apelação. Vamos pôr o pé no chão. Ele está blefando".
Entre a chuva de Paulo Coelho e o dinheiro fácil de Lair Ribeiro, Mônica fica com o segundo. Com restrições.
``Lair Ribeiro queimou uma área interessantíssima que é a neurolinguística. Tinha tudo para estourar, mas ele cobra preços caríssimos pelos cursos e palestras, então é contraditório. As vendas já estão caindo."
Maridos e esposas
Diz a lenda que foi Urbano quem incitou Mônica a escrever - e deu o pontapé inicial nessa história toda. "Não sei, acho que fui eu", diz, a falsa modéstia cravada no sorriso amarelo. "Faltava um pouquinho de confiança para ela". Pela "angelóloga", Urbano deixou o emprego em uma corretora de valores - desde novembro passado, ele se dedica exclusivamente a empresariar a escritora.
Por Mônica, Urbano deixou ainda mais: o casamento com Sueli, que era aluna de Mônica e foi quem apresentou os dois.
"Pintou um clima", lembra ele. O caso só tomou forma quando a mulher de Urbano viajou para os Estados Unidos. "Hoje temos um ótimo relacionamento. Ela e Mônica são amigas", diz ele.
Não quero que me toquem
Há pelo menos uma história mal explicada no vôo de Mônica. Está na Justiça um processo movido por Maudie Chiarini Bistão, que reivindica

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