São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Baixaria marca programas americanos

ZECA CAMARGO
EDITOR DA ILUSTRADA

Se comparados com os talk shows americanos, Jô e Marília Gabriela podem ser considerados chás literários. Deturpados pela sede da audiência média por escândalos e aberrações, praticamente todos os programas do gênero produzidos nos EUA têm uma coisa em comum: a baixaria.
Existem mais clones de Geraldo Rivera (conhecido aqui por seu ``Geraldo" através do SBT) do que de David Letterman (que chega aqui no canal por assinatura Superstation).
Por exemplo, a mulher notoriamente mais rica da televisão norte-americana, Oprah Winfrey, não pode esconder que o segredo de seu sucesso é uma lista de aberrações que vão de familiares de assassinos seriais a vítimas de cultos satânicos. Se a história envolver um extraterrestre, melhor ainda.
Nem a novata Ricki Lake escapa do baixo nível. Aclamada por ``rejuvenescer" o formato, o único mérito de Lake é ter menos de trinta anos (ela não confirma sua idade publicamente) em um universo de apresentadores liderado por gente mais velha. Porque renovar mesmo, nem pensar.
Ou melhor, Ricki Lake talvez tenha dado uma mudada sim no perfil dos talk shows americanos. Mas certamente não foi para melhor.
No seu cardápio de discussões, Ricki passou a incluir disputas extremamente pessoais: ex-namorados, irmãos que brigam, mulheres ciumentas etc. Material desinteressante? Engano seu.
A princípio, parece que é isso que o público quer mesmo ver. Imagine transportar algumas das brigas que o ``Aqui Agora" leva ao ar em um dia fraco de assunto para o estúdio e adicionar um público opinante. Claro que ia dar certo.
É disso que o público gosta mesmo. E a infinidade de apresentadores nos Estados Unidos só justifica isso.
Alguns sobrevivem há anos, como é o caso de Phil Donahue, com seu ``Donahue" (o nome do programa quase sempre leva o do apresentador). Pioneiro em grosserias e piadas de duplo sentido, ele mal se preocupa com a nova concorrência.
Oprah também não parece ameaçada pelo estilo ``familiar" de Ricki, mas, segundo reportagem recente da revista ``Time", o resto da concorrência parece se preocupar.
Especialmente Jerry Springer. Se ele nunca pode se orgulhar muito da qualidade de seus temas, ultimamente ele parece que descambou. Não é à toa que ele aparece quase diariamente em outro programa, o ``Talk Soup", do canal a cabo E!
Com a desculpa de dar um resumo do melhor (leia-se pior) dos talk shows do dia, o programa vira quase humorístico -e já é um ``cult" de audiência.
Nada que não possa ser feito por aqui também. Talvez até com efeitos mais hilários.

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