São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 1995
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Círculo de violência

Incursões policiais na favela Nova Brasília, na zona norte do Rio de Janeiro, deixaram um saldo de 14 mortos anteontem. Testemunhos de moradores da favela dizem que os supostos traficantes foram executados. Essa desconfiança ganha bastante verossimilhança quando se informa que dois dos corpos tinham suas mãos amarradas.
Essas considerações já seriam suficientes para que o governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), ordenasse uma investigação completa, mas o que ocorreu foi algo bastante diferente: os corpos foram retirados do local antes mesmo que se realizasse uma perícia.
É evidente que o combate à criminalidade é hoje um dos principais clamores da população do Rio, de São Paulo e de muitas outras regiões do país. É igualmente claro que a ação repressiva é um ingrediente fundamental para fazer frente ao crime. Ocorre, porém, que colocar ênfase em ações repressivas violentas, como parece ser a estratégia de Alencar, pode acabar revelando-se contraproducente.
A ação policial enérgica atinge a criminosos e também a não-criminosos, o que acaba gerando a desconfiança da população das favelas. Não raro o favelado se sente mais bem protegido pelo traficante do que pela polícia. E, sem a colaboração da população, a luta contra o tráfico fica bastante comprometida.
De resto, para cada traficante morto existem pelo menos três ou quatro candidatos a substituí-lo. O resultado é sempre o mesmo: mais e mais violência.
O que de pior pode acontecer ao Rio é o Estado, através da polícia, tornar-se apenas mais uma parte envolvida na já violenta guerra entre quadrilhas.

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