São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 1995
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O público e a greve

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - A greve do metrô só demonstra que está mais do que na hora de certos setores do funcionalismo público reverem a maneira pela qual defendem suas reivindicações salariais.
Greve, a não ser as de cunho político, têm um objetivo prioritário: machucar o bolso do patrão. É a única maneira de fazê-lo eventualmente ceder.
Ora, no caso da greve do metrô (ou da saúde ou da educação), a greve não machuca o bolso do patrão, que é o governo do Estado. As operações do metrô dão prejuízo e obrigam o Estado a subsidiar a tarifa, ainda que o de São Paulo receba um dos mais baixos subsídios pagos no mundo nessa área.
O que a greve faz é machucar os 2,5 milhões de usuários (média diária) do metrô, para não mencionar os passageiros dos demais meios de transporte, que são igualmente alcançados pela paralisação do metrô.
Só há uma palavra para designar esse tipo de atitude para com o público: sacanagem.
O cidadão, além de ver o imposto que paga ser usado para subsidiar a tarifa do metrô, ainda é obrigado, com a greve, a pagar um extra, na forma de jornada de trabalho perdida ou de desconto no salário por chegar atrasado ou, no mínimo, pelo sacrifício adicional, superior à já insuportável cota habitual, para deslocar-se de casa para o trabalho e vice-versa.
Admito que não é fácil encontrar outro caminho para que médicos e professores do setor público ou os metroviários defendam suas reivindicações (nem entro no mérito delas, por absoluta falta de informações). Mas é preciso encontrá-lo, sob pena de ver o público voltar-se cada vez mais contra os grevistas de turno.
No caso específico do metrô, que tal parar 15 minutos em cada turno e aproveitar a paralisação para panfletagem e minicomícios em cada estação? O público vai estar parado mesmo na estação, esperando o trem bloqueado, e terá que ouvir. Se os argumentos forem satisfatórios, os grevistas ganham o público, única maneira justa de atuar, porque é a ele que servem e é ele quem lhes paga o salário e não o Estado.

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