São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Louvor aos Gordons

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Daqui a 50 anos, algum ex-diplomata dos Estados Unidos revelará que, nos anos 60, o Vietnã do Norte tentou invadir os Estados Unidos para acabar com os bons americanos que gostam de Papai Noel, de Frank Sinatra e de pizza com ketchup.
Leio as matérias de Gilberto Dimenstein (excelentes) sobre a difamada atuação de nossos bons irmãos do Norte nos acontecimentos de 64 em diante. Baluarte do Mundo Livre, só mesmo a obtusa má vontade ou o ouro de Moscou poderiam corromper a verdade histórica: nossos bons irmãos não apoiaram o regime autoritário que aqui se instalou.
Só não entendi, até hoje, foi uma passagem da biografia do marechal Castelo Branco, escrita por Luís Viana Filho, que foi seu chefe da Casa Civil. Narrando a ida de parlamentares ao Palácio do Planalto, logo depois de o Congresso ter declarado vaga a Presidência da República, diz o historiador: ``Rumou-se então para o Palácio, cujas luzes estavam apagadas. Também os elevadores não funcionavam. Temerariamente transportas as sentinelas, o pequeno grupo, principalmente de deputados, que acompanhava Mazzilli, subiu as escadas no escuro. Ao meu lado, acesos alguns fósforos, descobri um jovem secretário da Embaixada Americana - Robert Bentley (L.V.F. - ``O Governo Castelo Branco", José Olympio, 1975, página 46).
Outro depoente da mesma comitiva garante que quem ia acendendo os fósforos para iluminar o caminho era o próprio jovem secretário do então embaixador americano, Lincoln Gordon, que obviamente nada tinha a ver com aquilo, uma vez que seus interesses limitavam-se a garantir o Mundo Livre ameaçado pelo Darcy Ribeiro em Brasília e pelos sociólogos da rua Maria Antônia em São Paulo.
Corte para Londres: gostei de ver a Rainha-Mãe, afogada em sua cor preferida (amarelo-gema) chorar de emoção pelos 50 anos da paz que vivemos. Dizem os londrinos que ela é fiel ao clima da Batalha da Inglaterra e ao gim Gordon, que a mantém lúcida e admirável aos 90 e tantos anos. Grande Albion! Grandíssima Rainha-Mãe!

Texto Anterior: Delinquentes versus delinquentes
Próximo Texto: Hammurabi e a agricultura
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.