São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 1995
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Polícia omite laudos sobre mortos

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Os laudos cadavéricos dos 13 mortos na operação policial feita segunda-feira na favela Nova Brasília (zona norte do Rio) não serão divulgados.
A decisão foi tomada ontem pela manhã em uma reunião com representantes das polícias Civil e Militar e da Secretaria da Segurança Pública do Estado.
Segundo o assessor de imprensa da Polícia Civil, Roberto Reis, a decisão foi tomada ``para evitar especulações" e para não ``promover bandidos".
``Quando morre um policial, ninguém procura o laudo. A polícia e a sociedade saíram ganhando com a ação. Não morreu nenhum trabalhador. Bandido morreu, acabou", disse Reis.
Segundo ele, a divulgação dos laudos ``só serviria para reacender a questão" e que poderia gerar tumultos nas favelas cariocas.
Os laudos cadavéricos mostram onde as vítimas foram atingidas e quantos tiros levaram.
Através da análise de itens como distância dos tiros e ângulo da entrada das balas, é possível determinar se a morte ocorreu em tiroteio ou após a rendição da vítima.
Moradores e traficantes da favela reafirmaram ontem que pelo menos dez das vítimas já haviam se rendido quando foram mortas.
A Folha apurou que os laudos cadavéricos são semelhantes aos da chacina ocorrida em Nova Brasília em 94 (leia texto ao lado).
Ontem, durante todo o dia, a Polícia Civil deu informações desencontradas sobre os laudos. Primeiro, a assessoria informou que os laudos não estavam prontos.
Na véspera, o diretor do IML (Instituto Médico Legal), Alexandre Maluf, havia informado que eles estavam concluídos e seriam enviados à Polícia Civil.
Depois, a informação era que os laudos estavam com o secretário da Segurança Pública, general Euclimar da Silva -o que foi negado pelo assessor do general, coronel Lenine de Freitas.
À tarde, foi divulgada a relação de 12 mortos na operação. Dois deles tinham 17 anos. O corpo não-identificado é de um homem negro, de cerca de 30 anos. A ficha de antecedentes criminais dos mortos não foi divulgada.

OS MORTOS - Alex Sandro Alves dos Reis, 19, Cosme Rosa Genoveva, 20, Ciro Pereira Dutra, 21, Márcio Félix, 21, Jacques Douglas Melo Rodrigues, 25, Anderson Abrantes da Silva, 18, Alex Fonseca Costa, 20, Wellington Silva, 17, Nilton Ramos de Oliveira Junior, 17, Renato Inácio da Silva, 18, Fábio Ribeiro Castor, 20 e Eduardo Pinto da Silva, 18.

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