São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 1995
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Declaração de guerra

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Já começa a faltar gás de cozinha, o estoque de combustível presta-se para mais 20 dias e, contrariando decisão judicial, os petroleiros informam que continuam em greve -é o mais duro embate de Fernando Henrique Cardoso desde que chegou ao Palácio do Planalto.
O presidente da Federação Única dos Petroleiros, Antônio Carlos Spis, chegou a dizer ontem que a categoria nem sequer manteria o percentual mínimo de 30% da produção. O que significa, em resumo, declaração de guerra.
O governo, entretanto, é obrigado a usar a lei, caso não queira se desmoralizar diante de futuras pressões sindicais. E se fizer concessões, imagina o presidente Fernando Henrique Cardoso, iria estimular uma onda de concessões salariais, capaz de afetar as contas públicas.
A visão no Palácio do Planalto é de que a questão salarial serve como pretexto -o que é negado pelas lideranças dos petroleiros. O presidente mostra-se convencido de que a mola do movimento é política.
O ambiente no Palácio do Planalto era de tensão. A decisão era de cortar cabeças. Acena-se até com demissões em massa, numa pretendida lição para que esse tipo de desafio não se repita. E se não funcionar?
Ninguém sabe até onde vai a capacidade de radicalização dos petroleiros. O que hoje é apenas tensão vai virar pânico, caso comece a faltar gás de cozinha, estimulando, ao mesmo tempo, estocagem de combustível.
Não sem motivo, portanto, a greve é acompanhada com lupa pela Secretaria de Assuntos Estratégicos e ministérios militares.
PS - Sobre coluna publicada ontem comentando o massacre cometido por policiais no Rio, recebi fax do publicitário Enio Mainardi: ``Nem os lobos são tão selvagens. Eles têm uma regra: quando um deles percebe que vai perder a luta, se rende, oferecendo o pescoço. Cessa a briga, vale o princípio da sobrevivência. Por que matar quem se rendeu? Até os lobos respeitam mais o semelhante do que nós".

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