São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 1995
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A força do hábito

Os operários da Mercedes estavam em greve em 82. No terceiro dia, às 6h da manhã, Vicentinho, então vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, pediu aos trabalhadores:
- Companheiros, vamos hoje ficar em vigília dentro da fábrica.
E assim foi. Até que, às 11h30, os operários começaram a se aglomerar perto do portão principal. Queriam sair para tomar a tradicional pinguinha antes do almoço.
Sobre o portão, Vicentinho se esgoelava tentando conter os grevistas. Inútil. Em coro, gritavam:
- Queremos cachaça!
Foi quando um diretor do sindicato, José Soares Malta, pegou o microfone. Trepado no portão, argumentou que era uma questão de honra todos ficarem na fábrica. E, com lágrimas nos olhos, disse:
- Eu também tomo minha cachacinha de vez em quando. Mas faço um sacrifício pela greve.
Seguro de que tinha conseguido convencer os grevistas, piscou para Vicentinho e perguntou:
- Alguém ainda quer sair?
E a resposta dos grevistas:
- Queremos cachaça!

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