São Paulo, sábado, 13 de maio de 1995
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Mount Moriah grava com fé e Olodum

DANIELA ROCHA
DE NOVA YORK

Erramos: 15/05/95
Depois do sucesso das apresentações no ano passado no Rio e em São Paulo, durante o Festival Internacional de Artes Cênicas, o coral gospel Mount Moriah passou a ser fenômeno em Nova York e no Brasil.
Trazido à tona pelas mãos do produtor Nelson Motta, o coral gravou em dezembro do ano passado seu primeiro CD (leia texto nesta página), que deve ser lançado no mês que vem no Brasil e em setembro nos EUA. A surpresa é a participação especial do grupo baiano Olodum, em duas faixas.
Também em junho, a partir do dia 27, o grupo inicia uma turnê brasileira, com apresentações em Brasília, São Paulo, Curitiba, Salvador e Rio, além de apresentações já confirmadas em novembro, na celebração 100 anos de Zumbi.
O coral da Mount Moriah existe há cerca de 15 anos. Seu diretor é o americano Daniel Damen, que também faz parte das composições executadas pelo grupo.
Mas foi há três anos que a música que vinha de uma igreja batista no bairro negro do Harlem desviou Motta de seu passeio turístico. Daí para frente, a igreja, que reunia algumas dúzias de pessoas em seus cultos, passou a receber centenas de ``fiéis" brasileiros.
Dar uma passadinha na igreja Mount Moriah (5ª avenida com rua 126), às 11h do domingo virou pacote turístico. A reação dos integrantes do coral, dos fiéis e do reverendo Edward-Earl Johnson foi unânime: ``Os brasileiros são bem-vindos", dizem.
Com tanta gente indo à igreja para assistir aos cultos, o reverendo Johnson decidiu ampliar o tempo da introdução, com músicas. Das 11h às 12h30, o culto é só gospel em estilo que vai do tradicional ``spiritual" ao funk.
O grupo canta tanto o que há de mais tradicional em gospel (``Hallellujah") como composições mais contemporâneas (``The Lord is My Light")
A apresentação na igreja é um show. Começa devagar, com músicas mais ``intimistas", mas o ritmo é crescente a ponto de, no final, público e coral, estarem dançando e batendo palmas.
O envolvimento com o público brasileiro é tão grande que o reverendo Johnson -que não canta- quer integrar o coral para as apresentações no Brasil. ``O Brasil responde à nossa música de uma maneira muito positiva. Quando vi aquela multidão que foi nos ver no ano passado, não acreditei", disse.
Uma das teorias para tanta empatia, segundo o organista Damen, é a herança africana. ``Somos dois povos conectados pela mesma origem." Damen e o reverendo Johnson têm como uma das prioridades conhecer o Olodum durante sua turnê, já que o grupo teve sua participação no CD gospel feita através de mixagem de estúdio.
Daniel Damen, que veio da Califórnia para Nova York, para participar de produções da Broadway como pianista contemporâneo, afirma radiante: ``Acabei virando celebridade não com espetáculos, mas com a igreja".
O CD e os shows são só o começo. O coral das crianças da Moriah também está preparando seu repertório para apresentações.
Para Damen, já existem composições e arranjos suficientes para mais dois CDs do coral adulto -algumas das músicas novas estão sendo ensaiadas para apresentações no Brasil

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