São Paulo, sábado, 13 de maio de 1995
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Eleição na Argentina

Numa votação de particular interesse para o Brasil, os argentinos vão amanhã às urnas escolher o seu novo presidente. A crise mexicana, a interligação entre os mercados, a identificação de Brasil e Argentina perante muitos investidores internacionais, tudo contribui para fazer com que a opção dos vizinhos platinos repercuta também deste lado da fronteira.
A principal dúvida com que se chega às eleições é se Carlos Saúl Menem, atual presidente e responsável pelo plano que derrubou a hiperinflação, vai vencer no primeiro turno como sugerem as pesquisas. Afinal, as dúvidas quanto a suas chances de sucesso cresceriam no caso de segundo turno.
O grande trunfo de Menem, evidentemente, é o desempenho da economia desde abril de 1991, ainda que um alto preço tenha sido pago por isso. De um lado, com a fixação da paridade entre dólar e peso, e com o vigoroso processo de privatização, desregulamentação e abertura, a inflação despencou (ficou em 3,9% no ano passado) e o país cresceu em média mais de 7% até 94. Tal era o apoio que Menem conseguiu reformar a Constituição para possibilitar sua reeleição.
Ultimamente, porém, a situação se modificou e o apoio a Menem começou a se enfraquecer. A taxa de desemprego, por exemplo, que estava em 6% em 90, saltou hoje para 14%. Ademais, o ritmo de expansão reduziu-se drasticamente (estima-se em 3% para 95) e, com a política contracionista impulsionada pelo efeito México, vários setores vêm registrando resultados bastante negativos este ano.
Mas a oposição argentina enfrenta um grave problema. Por mais que insista que não vai alterar a relação dólar-peso, é difícil convencer argentinos e estrangeiros de que seu compromisso com a paridade é tão forte quanto se imagina ser o de Menem -afinal, criador do Plano. E com a confiança na estabilidade já fragilizada (mais de US$ 6 bilhões saíram do sistema bancário desde o México), uma mudança no câmbio teria alto potencial explosivo.
Se mais um país latino-americano até há pouco considerado modelo para o continente sofrer abalos econômicos, a credibilidade do ajuste em toda a região fatalmente seria afetada. Uma perspectiva inquietante, num momento em que o Brasil mal começa a se recuperar das desventuras cambiais causadas pela débâcle mexicana.

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