São Paulo, sábado, 13 de maio de 1995
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Dólar bom e dólar ruim

O fluxo de capitais para o Brasil voltou a ser positivo nesse início de mês. Mas o nervosismo e a violência típicos da especulação fazem com que os fluxos de divisas caiam ora em um extremo ora em outro. Se entre janeiro e abril o Banco Central gastou pelo menos US$ 6 bilhões de suas reservas para impedir que a cotação do dólar subisse, agora em maio o problema volta a ser a queda da moeda estrangeira.
Sob o efeito da crise mexicana, achou-se que o governo não conseguiria conter a pressão de alta da cotação do dólar. Bancos e empresas correram a comprar a moeda norte-americana e essa corrida gerou a alta do dólar. Em março deixaram o país, em média, US$ 179 milhões por dia. Em abril, as saídas médias foram de US$ 15 milhões.
Hoje, sob efeito das medidas de restrição às importações e principalmente da contenção do crédito, empresas e financeiras voltaram a trazer divisas. E a perspectiva se inverteu. Até quinta-feira o movimento de câmbio registrava em maio entradas médias líquidas de US$ 81 milhões ao dia.
No curto prazo, a interrupção da fuga de capitais e as novas entradas de recursos trazem um alívio que é sem dúvida bem-vindo. No longo prazo, porém, não é esse fluxo especulativo que interessa ao país. O chamado ``hot money" vem e vai segundo a atratividade dos juros e o temor dos riscos. Ele pouco agrega à economia nacional e frequentemente provoca perturbações.
Os capitais que interessam ao Brasil são os que se incorporam de modo duradouro a sua estrutura produtiva; são os investimentos diretos e não os capitais especulativos com os quais os mexicanos -e os investidores- iludiram-se.
Do ponto de vista do balanço de pagamentos, as divisas que provêm das exportações são mais sólidas e saudáveis do que as do mercado financeiro, pois resultam de uma atividade estável e não de humores muito transitórios.
A elevação dos juros foi utilizada para conter a fuga de capitais especulativos face à incerteza gerada pela mudança na banda cambial. Agora, a recuperação da credibilidade abre espaço para a redução dessas taxas. É uma oportunidade que não se deve perder. Afinal, as altíssimas taxas de juros estrangulam a produção e inviabilizam o equilíbrio orçamentário.

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