São Paulo, sábado, 13 de maio de 1995
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Chantagem

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Só existe uma palavra: chantagem. Chantagem não contra o governo, mas contra a população. A greve dos eletricitários foi julgada ontem ``abusiva" pelo Tribunal Superior do Trabalho -portanto, ilegal. Conhecido o resultado, um dos líderes do movimento ameaçou paralisar a transmissão de energia elétrica. No seu delírio, o país ficaria às escuras.
Presidente da Federação Nacional dos Urbanitários, Luiz Gonzaga Ulhoa Tenório, disse: ``Tivemos cuidado em garantir os serviços essenciais. Vamos agora agir de outra maneira. Não seremos cordiais e polidos". Formidável exemplo de irresponsabilidade.
Ameaça semelhante foi feita pela lideranças dos petroleiros: não se comprometeriam sequer a manter os 30% de produção exigidos por lei. Tradução: ameaça de falta de gás e combustível.
O presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, indiferente ao absurdo da chantagem, disse ontem que se empenharia em encaminhar um ``grande movimento nacional das categorias que estão em luta". Há, porém, um aspecto didático positivo. Diria mais: positivíssimo.
O desafio à lei e o aceno de chantagem apenas mostram como a delinquência corporativa se infiltrou no meio sindical. É uma reação que tem lógica no contexto da febre corporativista, segundo a qual os interesses estão acima dos direitos.
E, aí, vale tudo: greve em pronto-socorro, intermináveis paralisações de professores sem reposição das aulas, professor universitário se aposentando aos 50 anos e por aí vai. Eles usam o pretexto de que estão brigando com o governo, mas, na realidade, estão brigando com o cidadão que paga seu salário.
Por essas e por outras, quem for esperto não cai na lenga-lenga a favor dos monopólios. No limite, qualquer monopólio, seja público ou privado, significa chantagem.
PS - Não consegui entender. Vicentinho diz que o governo toma uma posição ``nazista" ao lançar aos poucos listas de demitidos da Petrobrás -nem entro na discussão sobre se é justa ou não a demissão. O que me incomoda aqui é a impertinência histórica. Segundo ele, os nazistas também matavam ``aos poucos". Imagine se matassem em grandes quantidades...

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