São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Importações derrubam vestuário e calçados

DA REPORTAGEM LOCAL

Os setores de vestuário e calçados estão entre os que tiveram maior desaquecimento nas últimas semanas. A razão não é interna ou consequência dos juros altos. Foram as importações que derrubaram as duas áreas.
A indústria do vestuário trabalha com previsão de déficit de US$ 4 bilhões na conta de comércio exterior (importações menos exportações) este ano -dez vezes maior do que em 94.
A produção no setor despencou quase 40% nos últimos meses e os preços caíram.
Na área de calçados, os industriais conseguiram convencer o governo na semana passada a aumentar o Imposto de Importação sobre o produto de 20% para uma faixa entre 47% e 63% a fim de proteger a indústria nacional.
A área econômica do governo exigiu como contrapartida o aumento da produtividade da indústria nacional.
Até em setores menos competitivos (há 10 mil empresas de tecidos no país) como o automobilístico e eletroeletrônico, as companhias nacionais já têm conseguido multiplicar a produção para atender a um mercado que ficou maior com o Real.
Nelson Freire, da Abinee, disse que a produtividade ``dobrou" em alguns produtos.
``Com estes ganhos de escala e produção, temos preços para confrontar qualquer outro país do mundo", diz.
Segundo Freire, os importados até o momento não chegaram a ocupar 5% das vendas no país.
No setor automobilístico, algumas empresas -um caso é a General Motors- reduziram em até dez horas o tempo de fabricação em algumas linhas de veículos.
Desaquecimento
O ex-ministro da Fazenda Mailson Ferreira da Nóbrega, da MCM Consultoria, afirma que, do ponto de vista do governo, o consumo continua aquecido -mas os níveis podem começar a cair após as vendas do Dia das Mães.
A queda das taxas de juro no mercado futuro já estaria apontando esta tendência. O mercado estaria confiante de que, ao cair a demanda, o governo também baixará os juros na economia.
Empresários de vários setores afirmam que o impacto de um desaquecimento sobre as empresas agora seria atenuado pelos ganhos de produtividade obtidos e pelo enxugamento (cortes e demissões) realizado nos últimos três anos.
Na prática, a indústria cresceu muito pouco em termos físicos desde o Plano Real, implantado em julho do ano passado.
O total de trabalhadores no setor industrial paulista, por exemplo, cresceu 1,1% nos 12 meses entre março de 95 e março de 94 (nove meses dos quais dentro do Real). As contratações são mínimas se comparadas ao nível de atividade, que saltou 19,6% no período.
Ou seja: o grosso do aumento da produção esteve baseado na utilização de capacidade de produção que estava ociosa.
E, no mês passado, a ocupação da indústria brasileira atingiu 86% da capacidade total -nível mais alto desde o Plano Cruzado.

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