São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Juro força preços para cima e começa a segurar consumo

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Trabalhando a níveis quase plenos, a indústria começa a registrar tímidos indícios de desaquecimento. Os sinais vêm acompanhados de juros mais altos. Aumentaram os custos de produção e a necessidade de reajustes de preço que vários setores alegam ter.
O juro alto, batizado pelos industriais como ``quase surrealista", é, neste momento, o principal elemento de pressão sobre os custos das empresas.
``Um produto que poderia custar R$ 100,00 sai por R$ 105,00 por causa dos juros", diz Edmundo Klotz, presidente da Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia).
``O governo está atingindo mais a produção do que o consumo com o juro", diz Nelson Peixoto Freire, presidente da Abinee, que reúne o setor eletroeletrônico.
``O juro alto pegou firme na veia do empresário", diz Horácio Lafer Piva, diretor do departamento de estatísticas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
Fornecedores, indústria e comércio vendem e compram produtos entre si a prazo -e dar prazo na economia equivale a emprestar dinheiro a juros de mercado.
Com o juro alto, o prazo tende a diminuir ou o dinheiro ficar mais caro, consequências que travam o ritmo normal da cadeia produtiva.
Industriais dos setores eletroeletrônico, de vestuário, produtos de limpeza e automóveis, entre outros, dizem que o aumento no custo trazido pelo juro maior está ampliando defasagens de preços (ver quadro) não cobertas até agora -apesar da oportunidade que um mercado aquecido oferece.
A explicação é que a competição com os importados ainda estaria barrando os aumentos. E os ganhos de produtividade -alavancados pelas vendas em alta desde o Real- teriam dado um fôlego adicional às empresas.
Na maior parte da indústria, quanto maior a produção, menor o custo para produzir.
``O problema é que agora estamos sentindo o início de uma paradeira", diz Sérgio Chiarinzzi, presidente do Instituto Nacional de Distribuição de Aço, um termômetro para vários setores que se utilizam desta matéria-prima.
Segundo ele, o desaquecimento é maior para os aços mais espessos, usados para fazer máquinas. No segmento de aços finos, para fabricar bens como geladeiras ou fogões, também há queda nos pedidos, porém em escala menor.
``Já detectamos diminuição do consumo em vários setores", diz Celso Hahne, presidente da Abiplast, que reúne os fabricantes de material plástico -produto usado em 13 grandes setores (embalagens, eletroeletrônico, automotivo, móveis, têxtil, etc.).

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