São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Melhora mercado para papéis brasileiros

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O dinheiro dos investidores internacionais está novamente disponível para o Brasil. Depois de quatro meses de desconfiança e escassos negócios -ambiente gerado pela crise mexicana-, o mercado para títulos de empresas brasileiras (eurobônus) voltou a acolher lançamentos.
Até o final de abril eram feitas apenas pequenas operações de rolagem dos papéis que venciam, por curto período (até seis meses) e de pequeno valor. A reviravolta começou em maio, quando o Unibanco esticou limites e prazos -vendeu US$ 100 milhões de papéis de um ano. O Bamerindus fez operação idêntica, que deverá estar concluída até junho.
``A aceitação dos títulos foi massiva, rápida e superou nossas expectativas", diz o diretor internacional do Unibanco, Sérgio Zappa. ``A situação do mercado está mudando, o bolo para países emergentes certamente diminuiu mas o Brasil está pegando fatias maiores dele", comenta Anthony Paim, diretor internacional e corporativo do Bamerindus.
O pânico dos investidores com a quebra do México parece ter chegado ao fim e esta é uma das principais razões para a renovação de seu interesse por papéis que, no cenário de crise, pareciam promessas certas de prejuízos. ``Há percepção generalizada de que o México pode ter problemas, mas que o pior já passou", analisa Zappa.
Apesar do choque da fuga de capitais sofrido pelas economias argentina e brasileira, a crise mexicana não teve o temível ``efeito dominó". ``O impacto sobre a Argentina foi controlado e a possibilidade de eleição do presidente Carlos Menem no primeiro turno reduz a volatilidade dos mercados", comenta Eduardo Vassimon, diretor da área internacional do BBA Creditanstalt.
As taxas de juros de longo prazo (bônus de 30 anos) recuaram nos EUA -caíram abaixo de 7%. Foram a 6,94% e na semana passada subiram um pouco, para 6,98%. Como a comparação da rentabilidade da aplicação para a escolha de compra dos papéis é feita em relação a este título, a queda melhora de alguma forma a atratividade de papéis de países emergentes.
``Os investidores americanos estão voltando", constata Eduardo Carvalho, do ING Bank. ``Os fundos de investimentos dos EUA anteciparam venda de papéis prevendo que haveria grandes saques de seus cotistas", complementa Vassimon. ``Isto não ocorreu e eles têm recursos para aplicar agora".
Há unanimidade entre quem opera com eurobônus de que as perspectivas da economia brasileira -o segundo alvo, depois da Argentina, das preocupações pós-crise mexicana- melhoraram. Há coincidência também nos motivos apontados: o anúncio de privatização das empresas de energia, a recuperação ainda que gradativa da balança comercial (diferença entre exportações e importações), a visita do presidente Fernando Henrique aos EUA e a aprovação preliminar de mudanças constitucionais pelo Congresso.
O crescimento da captação de dinheiro externo, porém, é ainda incipiente. O BCN-Barclays concluiu no último dia 9 operação de US$ 40 milhões por dois anos pagando 11,8%, cerca de 5,2 pontos percentuais acima das Letras do Tesouro americano de duração equivalente. Antes da crise mexicana, o padrão girava de 3,8 a 4 pontos percentuais.
Ainda assim, venda de títulos por dois anos é uma boa notícia. Até abril, as transações ocorriam para papéis de até um ano.

Texto Anterior: Equipe procura fórmula de transição
Próximo Texto: Jovens resistem mais a diminuir consumo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.