São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Cenário internacional favorece países da AL

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Lembra do dólar batendo em 80 ienes e caindo abaixo da linha de 1,35 marco alemão? Foi há poucos dias. Lembra dos juros nos títulos do Tesouro dos EUA batendo em 8%? Foi há poucas semanas.
Mas na sexta-feira os mercados globais fecharam com uma reviravolta no dólar e nos juros que, segundo alguns observadores, é digna de um contragolpe de caratê.
Os juros nos títulos de 30 anos caíram abaixo dos 7%. É a primeira vez que isso ocorre em mais de um ano. E o dólar reagiu com força, quase encostando nos 87 ienes e em 1,45 marco. A Bolsa de Nova York manteve-se vigorosa.
Três fatores fundamentais empurraram os mercados nessa direção. Os indicadores econômicos norte-americanos apontam desaceleração do consumo e esfriamento da atividade.
O governo Clinton partiu para uma ofensiva contra o Japão que está a centímetros de uma guerra comercial. E, terceiro, o Congresso deslanchou uma discussão que pode terminar em severas reduções do déficit público.
Uma economia desaquecida significa menor possibilidade de elevação dos juros. O banco central dos EUA vai promover reuniões, no próximo dia 23 e em 5 de julho, para discutir o que fazer com a taxa de juros. Se os indicadores continuarem nesse compasso, podem até optar por reduzir os juros.
Os estoques na economia americana tiveram o maior aumento trimestral desde 1987. As vendas de carros estão caindo. As hipotecas de 30 anos estão com taxas nos níveis mais baixos dos últimos 14 meses. E o ouro, reserva habitual nos momentos de corrida contra o dólar, perdeu valor.
A ofensiva contra o Japão é, ao menos na retórica, bastante violenta. Em geral as atitudes são menos drásticas, quando se obtém algum resultado voluntário. Mas é o secretário do Comércio, Ron Brown, quem acusa publicamente o Ministério da Indústria e Comércio Internacional (MITI) de controlar a indústria japonesa e impedir o aumento de importações.
Seja qual for o resultado prático das ameaças, os mercados antecipam-se e dão mais força ao dólar quando o governo americano se revela mais afirmativo.
Finalmente, um cenário de maior ajuste fiscal na economia dos EUA, com a maioria republicana encaminhando propostas de redução do déficit público, torna mais confiável o horizonte das finanças públicas do devedor mais importante do mundo.
Os três fundamentos da economia americana que receberam reforço nos últimos dias foram, portanto, o sistema de preços, a balança comercial e as contas públicas. As perspectivas são de inflação menor e redução dos déficits comercial e público.
A combinação desses fatores deu reforço ao dólar. Capaz até mesmo de sobreviver às notícias de inflação maior, também divulgadas na sexta. O Índice de Preços ao Consumidor teve o pior desempenho em oito meses e o ``miolo inflacionário" no primeiro quadrimestre foi de 4,2%, contra 2,6% em igual período de 94.
Isso mostra a força das expectativas. É um ambiente de otimismo que pode ajudar a tirar as economias latinas da armadilha criada, afinal, pela alta exagerada dos juros nos EUA em 1994.

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