São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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BC utilizou reservas para socorrer Banespa

Banco recebeu em março depósito de US$ 300 milhões

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central usou suas reservas em dólar para fortalecer o caixa do Banespa, banco estadual sob intervenção desde dezembro passado. A operação permitiu ao Banespa recuperar linhas de crédito junto a bancos estrangeiros.
Entre os dias 20 e 30 de março, o BC repassou ao Banespa, em quatro parcelas, o total de US$ 300 milhões das reservas cambiais do governo. Na época, o banco paulista vinha tomando empréstimos até de fundos de pensão para cumprir compromissos externos.
O valor depositado pelo BC equivale ao do empréstimo que o governo pretendia fazer ao México, no auge da crise vivida por aquele país no início do ano.
O total aplicado representa pouco mais de 1% das reservas do BC -hoje estimadas em cerca de US$ 27 bilhões. A Folha não conseguiu apurar se outros bancos nacionais receberam depósitos das reservas, mas os técnicos consideram isso improvável.
Seria, portanto, o segundo privilégio concedido pelo BC ao Banespa. O banco, como outras quatro instituições estaduais sob intervenção, é isento do recolhimento compulsório de recursos ao BC.
O depósito das reservas no Banespa foi autorizado pelo diretor de Assuntos Internacionais, Gustavo Franco. Foi determinado que a operação fosse feita em sigilo.
Em março, quando o mercado de câmbio vivia grande nervosismo, pelo menos dois grandes bancos estrangeiros ameaçaram cortar os repasses de dólares ao Banespa -o dinheiro com que o banco opera no mercado de câmbio.
Um banco alemão já havia cortado as operações com o Banespa, em janeiro, quando os jornais publicaram frase do ministro Pedro Malan (Fazenda), segundo a qual o Banespa poderia ser liquidado.
Embora perdendo linhas desde o ano passado, o Banespa vinha conseguindo renovar seus compromissos externos, a custa de empréstimos junto ao mercado financeiro e a fundos de pensão e pela venda de títulos.
A situação fez o interventor do BC no Banespa, Altino da Cunha, pedir ao BC um depósito das reservas, o que garantiria a normalização das operações cambiais do banco até o final do semestre.
O BC vem, desde o ano passado, diversificando a aplicação das reservas, até então praticamente concentradas no BIS (Banco de Compensações Internacionais, na Suíça, uma espécie de banco central de todos os bancos centrais).
Ao aplicar suas reservas em dólar, o BC age como qualquer poupador: seleciona bancos e aplicações para combinar segurança, liquidez (acesso rápido ao dinheiro) e rentabilidade.
As reservas estavam no BIS por segurança. O banco suíço paga juros inferiores aos do resto do mundo, mas é invencível em solidez. Além disso, os dólares ficavam a salvo de confiscos por parte dos credores externos.
Aplicando as reservas no Banespa, o BC eleva a rentabilidade de seus dólares, mas arca com um alto nível de risco -basta dizer que o balanço do Banespa, se for feito segundo os critérios mais rígidos, apontará a quebra do banco.
A diversificação das aplicações das reservas foi permitida pelo fechamento do acordo com os credores externos, em abril de 1994, que deixou o Brasil em dia com seus compromissos externos e a salvo de execuções judiciais.
Para receber os dólares do BC, o Banespa ofereceu em garantias contratos de financiamentos a exportadores. Se o banco perder as condições de devolver as reservas ao BC, este poderá receber dos exportadores financiados.

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