São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Proteína pode estar ligada a Alzheimer

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

No cérebro de pacientes com mal de Alzheimer há superprodução de placas de uma proteína chamada beta-amilóide, cercadas de células nervosas (neurônios) em degeneração.
A beta-amilóide é parte de molécula maior, a APP (proteína precursora da amilóide), que se forma, na opinião de alguns, nos lisossomos (vesículas enzimáticas onde, entre outros fenômenos, ocorre a degradação de proteínas).
Os cientistas têm debatido muito a origem, a natureza e as funções da beta-amilóide.
Esses debates decorrem de numerosas pesquisas realizadas especialmente nos últimos anos por vários cientistas, entre os quais se vão destacando os grupos chefiados por Dennis Selkoe, da Harvard Medical School, Steven Younkin, da Universidade Case Western, e, ligado ao primeiro, Ivan Lieberburg, da Athena Neurosciences Inc., de San Francisco.
A comunidade neurológica acha-se claramente dividida em duas alas quanto ao significado da amilóide. Para uns, ela é causa da degeneração nervosa que acompanha a doença, para outros, não passa de decorrência desta.
Ultimamente tem crescido o número de adeptos da primeira ala.
Um dos argumentos enfrentados em geral pela primeira ala é a incapacidade de as células intatas produzirem beta-amilóide.
Mas os três pesquisadores mencionados mostraram que células nervosas normais, em cultura, na realidade secretam a amilóide no líquido de cultura.
Como as células parecem sadias, a conclusão lógica é que os neurônios não precisam estar lesados para libertar a proteína, o que é um argumento que reforça os pró-amilóides.
Outra observação interessante é o encontro, pelos mesmos autores, da beta-amilóide no líquido céfalo-espinhal (líquor) tanto em pacientes de Alzheimer quanto em pessoas normais, o que indica que as células cerebrais também libertam beta-amilóide, a qual não seria, pois, artefato dos meios de cultura.
Mas se todos produzem beta-amilóide, por que somente algumas pessoas desenvolvem o mal de Alzheimer?
Essa dificuldade foi resolvida pelo isolamento de um gene mutante de APP numa família sueca cujos membros manifestavam forma hereditária e precoce do mal.
Os pesquisadores inseriram esse gene em células de cultura e observaram que nestes há superprodução (seis a oito vezes mais) da amilóide em relação ao normal.
Muitos aceitam os achados dos três grupos, mas alguns salientam que a prova crucial do papel da amilóide só virá quando se inserir a APP mutante em camundongos e se reproduzir, por esse meio, quadro clínico semelhante ao do mal de Alzheimer.
Essa inserção já tem sido tentada, e continua a ser, porém sem êxito.
Outra solução talvez fosse medir a concentração da beta-amilóide no líquido céfalo-raquiano dos membros, afetados ou não, da família sueca.
O encontro de maiores concentrações em membros atacados pela doença demonstraria pelo menos a importância da amilóide.
Selkoe defende ardorosamente a técnica da cultura, pelo menos enquanto não se descobrir um modelo animal da doença.
Ele e seus colegas alegam várias conquistas que essa técnica já permitiu realizar em matéria de Alzheimer (``Science", 259, 458).
Além de outras propriedades, o sistema pode servir à identificação de enzimas liberadoras de beta-amilóide, as quais constituem alvos potenciais para drogas, e triagem de drogas para evitar a formação de beta-amilóide.

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