São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995 |
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Alunos mostram a cara da ciência
VANESSA DE SÁ
Esses são alguns dos resultados de um estudo que, durante dois anos, analisou mais de 9.500 desenhos e respostas dadas por alunos de 1º e 2º graus (escolas públicas e privadas) de vários países. Mas não é só. O trabalho, apresentado no 24º Encontro da Sociedade Brasileira de Bioquímica, em Caxambu, na semana passada, também procurou traçar o perfil do cientista e da ciência segundo professores de 2º grau e os próprios cientistas. Parte do trabalho já havia sido publicada há dois anos na revista ``Biochemical Education". A novidade foi a inclusão e divisão da pesquisa em quatro grandes grupos ``culturais" -EUA, França e Itália (países desenvolvidos), Chile, México e Brasil (América Latina), Nigéria (África) e Índia (Ásia)- e a participação de professores e cientistas. ``Perguntamos a estudantes do 2º grau, que estão às vésperas de escolher uma carreira, qual o campo do conhecimento que estaria ligado à carreira científica", disse Denise Lannes, 36, do Departamento de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para os estudantes latino-americanos, biologia, medicina e química foram as respostas mais frequentes: aparecem em 79% das respostas de brasileiros e em 62% das de chilenos. Para os italianos, em 60% das respostas. As ciências humanas fazem parte do grupo `outros' -carreiras que individualmente não atingiram 2% das respostas (ver tabela). O estudo também procurou abordar quais seriam as carreiras escolhidas por alunos de três países se eles fossem cientistas. Nesse caso, as ciências humanas também ficaram no campo `outros'. Biologia e medicina são as mais lembradas por brasileiros, totalizando 56% das respostas. Chilenos escolheriam biologia e astronomia (41%), enquanto para italianos, as carreiras de física (25%), astronomia (17%) e química (17%) são as mais lembradas. Dados do ISI (Instituto para Informação Científica), dos Estados Unidos, de 1991 mostram que 53,6% de todas as revistas científicas indexadas referem-se à área de biológicas. ``A análise mostrou que 67,1% dos alunos latino-americanos de 2º grau, 97,1% dos nigerianos, 54% dos alunos dos países desenvolvidos e 63% dos indianos desenharam o cientista nesse ambiente." Para o bioquímico Leopoldo de Meis, 57, do mesmo departamento, isso pode estar ligado à imagem que predominou na Europa nos séculos 18 e 19, que identificava o cientista como um químico, um velho alquimista. A conclusão de Meis baseia-se no fato de o ensino e a mídia parecerem não ter qualquer influência sobre os estudantes. Quatro séries de livros didáticos brasileiros de ciência foram escolhidas ao acaso (5ª a 8ª séries). O elemento que dominou as ilustrações foi a natureza -animais, plantas e paisagens)- (57,1% das vezes) contra a frequência de 12,9% de vidrarias. A análise dos desenhos de estudantes brasileiros mostrou uma frequência de 66,2% para vidraria contra 2,8% de elementos da natureza (ver gráfico). Foram analisados também 106 cenas de 31 filmes e 25 histórias em quadrinhos onde de alguma forma o cientista participa. Em 50% das cenas e 60% das histórias é o computador que aparece associado ao cientista. Computadores aparecem em apenas 6,2% dos desenhos dos brasileiros. No grupo dos países desenvolvidos ele aparece em 3,3% dos desenhos, no grupo dos indianos em 1,4% e no dos nigerianos em 3,2%. Sexo Cientistas são homens, pelo menos para os estudantes. No grupo dos países desenvolvidos, a figura masculina aparece em 85% dos desenhos de alunos de 1º grau e em 84% dos de 2º grau. No grupo latino-americano, em 72% das imagens feitas pelas crianças e 77% dos adolescentes. Para nigerianos e indianos, a situação é a mesma: aparece em 94% dos desenhos de nigerianos e em 96% dos de indianos. Já os professores brasileiros parecem estar numa posição intermediária (48% dos desenhos). Os cientistas brasileiros parecem optar por não definirem o seu próprio sexo (62% dos desenhos não trazem traços que permitam a identificação do sexo). Homens e mulheres aparecem em proporção quase igual: 23% contra 15%. ``Para que não corrêssemos o risco de ter uma amostra viciada, pedimos aos estudantes brasileiros que também desenhassem a figura humana e a de um artista", disse Lannes. Os resultados indicaram que a figura humana não está ligada a nenhum estereótipo, já que os dois sexos aparecem em iguais proporções (veja gráfico). Artistas também podem ser homens ou mulheres: 49% dos desenhos apontam para homens contra 38% para mulheres. ``Finalmente procuramos saber como estudantes, professores e cientistas brasileiros concebem a ciência", disse Lannes. Estudantes de 1º e 2º graus apresentaram respostas semelhantes: a ciência é voltada a uma aplicação, como a produção de vacinas (64% e 58%, respectivamente), está fundamentalmente associada a experimentos (62% e 67%) e é criativa (57% e 63%). Para os cientistas, a ciência é experimental (64%), lida com a produção de conhecimentos básicos (58%) e é voltada para a publicação de artigos (57%). "Percebemos que há um aumento na preocupação com a publicação e divulgação de artigos quando avançamos o estudo de alunos a cientistas -de 2% a 57%- e uma diminuição da preocupação com aplicação prática da ciência -de 64% para 12%. Os resultados mostraram que conhecimento básico e experimental estão sempre ligados a ciência, disse a bióloga. 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