São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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Meios de deformação

Esta Folha revela hoje que aproximadamente um em cada seis parlamentares é dono ou pertence a famílias proprietárias de concessões de rádio ou televisão. Esse número provavelmente é ainda maior, pois não foram computados os políticos que controlam meios de comunicação através de terceiros, os chamados testas-de-ferro.
A razão de tanto interesse de políticos por meios eletrônicos de comunicação é quase evidente. São também meios de acesso a dinheiro e poder político. Ser proprietário de uma TV é sempre um negócio atraente e proporciona considerável poder político em nível regional, uma vez que o noticiário local é produzido pela própria difusora.
O caso das rádios é mais complexo. Uma emissora de uma cidade pequena pode até acumular pequenos prejuízos, mas o rádio ainda é a melhor forma de chegar até a população mais carente e de menor nível educacional, rendendo excelentes dividendos eleitorais.
O controle que as famílias de políticos exercem sobre o noticiário não poupa nem mesmo a Rede Globo. No dia 10 de novembro do ano passado, a TV Mirante, de Imperatriz (MA), controlada pela família Sarney, impediu que fosse ao ar, no Jornal Nacional, uma pesquisa de intenção de voto do Ibope que indicava uma virada do candidato Epitácio Cafeteira (PPR), adversário de Roseana Sarney (PFL). No exato instante em que a pesquisa seria divulgada, a TV saiu do ar, para retornar alguns minutos depois. A emissora alegou falta de energia elétrica. Nas imediações da repetidora, porém, ninguém mais se queixou de falta de luz. Roseana, como se sabe, acabou vencendo a disputa.
Situações como essa evidenciam a necessidade inadiável de reformar o modo pelo qual as concessões são hoje distribuídas. É um absurdo que um político seja contemplado, por razões muitas vezes discutíveis, com uma concessão pública que lhe trará votos independentemente dos méritos de sua atuação.
Informação confiável ainda é a melhor maneira de aprimorar os quadros políticos nacionais. Com os meios eletrônicos de comunicação nas mãos de políticos, muitos dos quais são justamente aqueles que seria desejável ver longe do Parlamento, fica muito mais difícil avançar nesse sentido.
É urgente, portanto, encontrar uma forma técnica de distribuir essas concessões e, enquanto é tempo, proceder a uma revisão das que já foram outorgadas. Os meios de comunicação existem para informar, e não para desinformar ou até deformar a realidade.

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