São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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a cidade ri da decadência

CRISTINA ZAHAR

A decadência está em alta. "Sábado", do cineasta paulistano Ugo Giorgetti, usa a deterioração social para divertir e, de quebra, mostrar que o cinema nacional já supera sua própria fase de declínio junto ao público. Em quase um mês de exibição em São Paulo, teve 25 mil espectadores. A história mostra a degeneração do centro de São Paulo de forma engraçada, sarcástica até. Num sábado, uma equipe de publicidade vai rodar um comercial de perfume no elevador social de um velho edifício, bagunçando a rotina dos moradores de classe média em processo de proletarização. Nesse cenário, misturam-se dois mundos: o dos publicitários -mauricinho e reluzente- e o dos moradores -feio, sujo e miserável.
O roteiro poderia resultar piegas ou extremamente maniqueísta. Mas pelas mãos de Giorgetti -que antes de tudo é publicitário- ficou engraçado. O diretor não quer fazer a cabeça de ninguém: "Fazer neo-realismo socialista hoje é ridículo", declara, misturando o movimento cinematográfico italiano com a política cultural soviética dos tempos do governo de Josef Stalin. "Todo mundo já criticou a decadência", prossegue Giorgetti, "e, no entanto, ela se verifica a despeito disso. Não quero criticar coisas que todo mundo vê".
"Abrasileiramento"
O poeta e ensaísta Décio Pignatari, 67, que faz uma ponta no filme, considera a decadência como uma fase de transição de um sistema de valores para outro. "Até a sedimentação desses novos valores, tem-se o sentimento da decadência", esclarece. No filme, Pignatari interpreta o "homem de Alcatraz", espécie de quebra-galhos do prédio (leia crítica na página seguinte).
Para ele, a cidade de São Paulo enfrenta, de 1955 para cá, um processo de "abrasileiramento", com a perda dos valores europeus e a forte migração nordestina. "A evolução da infra-estrutura não acompanhou

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