São Paulo, domingo, 14 de maio de 1995
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a cidade ri da decadência

CRISTINA ZAHAR

a explosão demográfica. Mas a transformação da cidade está quase consolidada.
Decadência -como o cinema- é movimento. O geógrafo urbano Milton Santos, 69, acha que o termo é um julgamento de valor e, como tal, subjetivo. "A decadência se inclui no movimento da cidade", diz. Em sua avaliação, o crescimento de São Paulo fez surgir novos centros -na avenida Paulista, nos shoppings, nos bairros. "O velho centro não tem força para se renovar". Como solução, ele propõe a "gentrificação" do centro, a exemplo do que já vem ocorrendo em Toronto, Paris e Londres. Trocando em miúdos, gentrificar significa tornar nobre de novo.
O fato de a decadência ser um tema recorrente na obra do Giorgetti cineasta não chega a ser uma vingança contra a realidade. "Vejo esta cidade declinar desde que me conheço por gente. Em 1960, ela era uma delícia. Em 59, era sensacional. Em 58, genial. De repente, você começa a ver a cidade se deteriorando e vê que isso não tem fim".
Seu objetivo é bem simples e coincide com o que pensa a maioria dos paulistanos: "Não encontro outro tema tão durável quanto a decadência para falar de São Paulo. Só acho que alguma coisa precisa ser feita a respeito das crianças que dormem e vivem nas ruas".
Com o tema da decadência, Giorgetti ajuda a mostrar que o cinema brasileiro começa a superar a sua própria decadência. Perfeccionista, se autodenomina um diretor pragmático. Nada de cenas mal filmadas, cortes mal feitos ou personagens que somem. "Detesto passar por amador. Tenho que ser profissional. Não posso me permitir fazer coisas erradas, principalmente diante de outros profissionais", diz.
O diretor já começa a pensar em seu próximo filme, ainda sem título, sobre o futebol. Serão seis episódios com tipos clássicas do esporte como, por exemplo, o craque que está na miséria, tipo Garrincha. "Vai ter também o juiz ladrão e o jogador que vem da cidade pequena para a grande", diz.
Dinheiro e obsessão
O próximo filme vai romper a rotina de ambientes fechados com a qual Giorgetti, 52, estava acostumado. Tanto "Jogo Duro (1985) como "Festa" (1988) se passam em um único lugar, uma casa. Mas não é uma obsessão do diretor. "Filmo desse modo porque, originalmente, não tenho muito dinheiro para trabalhar". O orçamento de `Sábado' foi de US$ 560 mil. O orçamento de um filme médio produzido em Hollywood gira em torno de US$ 40 milhões.
Desde 1968, o diretor trabalha com publicidade. Foi só em 1973 que debutou no cinema, dirigindo um curta-metragem sobre o bairro dos Campos Elíseos. De novo transparece o amor pelo estrago. "Esse bairro sempre me fascinou muito. Foi construído para ser o primeiro bairro aristocrático de São Paulo e, 20 anos depois, virou boca do lixo".
Em 75, veio outro curta, desta vez sobre o edifício Martinelli. Hoje o prédio está recuperado, mas naquela época, assinala Giorgetti, era uma espécie de "favelão vertical.
O diretor revela que se inspirou nele para filmar "Sábado". "Quando o Martinelli foi construído, era para

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