São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 1995
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Boatos sobre raptos alarmam cidade

SERGIO TORRES
EM SÃO PAULO

O boato de que crianças vêm sendo mortas por traficantes de órgãos humanos está gerando pânico em Carapicuíba (25 km a oeste de São Paulo).
Os membros da suposta quadrilha de traficantes são descritos de várias maneiras pelos moradores da cidade, que tem 500 mil pessoas, segundo a prefeitura.
O objetivo da quadrilha seria extrair das vítimas fígado e rins, vendidos para hospitais especialistas em transplantes clandestinos.
As histórias repetidas o dia inteiro nas ruas, escolas e lojas são falsas, dizem os policiais da Delegacia de Carapicuíba. A polícia local não registrou nas duas últimas semanas nem sumiço de crianças nem o aparecimento de cadáveres mutilados.
A falta de provas não convence a população, que critica a ação policial. A cozinheira Elisabete Evangelista, 31, critica a polícia.
``No Tucunduva (colégio da cidade), um menino foi pego por bandidos vestidos de palhaços. Um dia depois, deixaram ele morto dentro de um saco de lixo na porta de casa, com R$ 70,00 e um bilhete que dizia que o dinheiro era para o funeral."
A dona-de-casa Maria de Lourdes Coelho, 40, diz que proibiu os quatro filhos de sair na rua. Segundo ela, oito crianças sumiram e depois apareceram com as barrigas retalhadas e esvaziadas.
A empregada doméstica Lígia Izildinha de Souza, 27, acusa uma misteriosa loura pelo sumiço das crianças. Ela afirma que a loura circula ao volante de um Opala branco. Quando vê uma criança sozinha, desce do carro e tenta capturá-la.
Para o delegado-titular da Delegacia de Carapicuíba, Brasílio Gomes Machado Filho, está em curso um plano para ``desestabilizar a ordem pública, a polícia e até o Judiciário da cidade".
``São boatos infundados, sem nexo e que só podem sair da cabeça de algum débil mental", afirmou ele à Folha.
O delegado diz que os boatos começaram com o desaparecimento de Aline Cristine, 11, há quase 20 dias. Ele disse que as apurações policiais indicam que a menina foi levada pelo padrastro e não por traficantes de órgãos humanos.
O prefeito de Carapicuíba, Fuad Grabriel Chucre (PDT), 55, chegou a ser procurado por uma comissão de mães da cidade. ``Recomendo calma à população. Não há fato concreto. Só boatos."

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