São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Discípulos homenageiam humor de João do Vale

Coletânea traz Chico, Edu Lobo, Ivon Cury e Zé Ramalho

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há nada mais chato do que coletâneas em que alhos interpretam bugalhos. Tudo vira uma desculpa para exibicionismo do intérprete em detrimento do compositor.
O CD em homenagem a João do Vale evita esse caminho fácil e enfeixa intérpretes sintonizados com a arte primitiva e emocionante do compositor maranhense em arranjos adequados.
Os cantores são discípulos ou lançadores de sucessos de João do Vale. Entre os discípulos se encontram Chico Buarque, Edu Lobo, Fagner, Zé Ramalho, Ednardo. Os lançadores são Ivon Cury, Marinês e Luiz Vieira.
Chico faz uma interpretação definitiva de ``Minha História". Esta toada iniciava o desfile panfletário pró-reforma agrária no show ``Opinião", a cargo de João do Vale, e se perdeu no calor da hora. Chico a ressuscita.
Edu Lobo realiza uma interpretação erudita de ``Carcará", com um complexo arranjo orquestral, aliás a dominante do disco.
Outra abordagem de talento é a do desaparecido Zé Ramalho (daqui a pouco ele vai acabar precisando de um CD em homenagem) de ``O Canto da Ema". Esse incendiário baião ganha suíngue pop e recobra o vigor rítmico com que foi criado.
Mas a melhor faixa fica a cargo de Ivon Cury, que recria o sucesso ``Forró do Beliscão" com alta técnica vocal e espírito humorístico.
Também não deixa de ser interessante ouvir Paulinho da Viola atacando de ``A Voz do Povo", samba lançado por Nara Leão, ou a velha Marinês mostrando garra em ``Peba na Pimenta".
A coletânea só tem o defeito da falta de datas originais da composição e de um texto no livreto que contextualizasse a importância do músico.
João do Vale segue sendo um manancial. Sua música, modal e armada em contrastes, fundamentou a geração emepebista, surgida em 1964 e até hoje proprietária da mainstream do mercado. Com seu bom humor e crítica, ele sugere que a canção de protesto nasceu do desejo sincero de insurreição, mas também da safadeza pornô.
O nascimento da MPB corresponde ao nascimento da comédia. João do Vale trouxe sexo para o cancioneiro.
(Luis Antônio Giron)

Disco: João Batista do Vale
Intérpretes: Chico Buarque, Alcione, Ednardo, Edu Lobo, Fagner, Ivon Cury, João Bosco, Marinês e outros
Projeto: Chico Buarque
Produção: José Milton
Lançamento: BMG Ariola
Preço: R$ 18,00 (o CD, em média)

Texto Anterior: Titãs mostram sua porção "neguinha"
Próximo Texto: Edu K reinventa o som dos bailes funk em seu primeiro disco solo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.