São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 1995
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Projeto Weffort retoma idéias antigas

ELVIS CESAR BONASSA
DA REDAÇÃO

Os primeiros quatro meses da gestão de Francisco Weffort frente ao Ministério da Cultura foram gastos em viagens pelo país. O ministro colhia subsídios para o projeto cultural que será finalmente apresentado na quarta-feira.
Não é um projeto inovador. Pelo menos por enquanto, vai se concentrar na recuperação do patrimônio histórico e artístico, embora reserve pequena parte dos recursos para eventos regionais.
É o que os ministérios e secretarias encarregados da cultura fazem há pelo menos duas décadas.
Em abril de 1981, por exemplo, o então Ministério da Educação e Cultura anunciava a mesma coisa: prioridade para o patrimônio, aí já incluídos os planos de transformar a Madeira-Mamoré em centro turístico e cultural.
No ano passado, a matriz de gastos do governo federal com cultura também foi semelhante.
Foram gastos concentrados em patrimônio e poucos recursos do Fundo Nacional de Cultura para projetos regionais, principalmente bandas de cidades do interior.
A falta de novidades não é necessariamente um grande defeito do projeto Weffort, se os planos prosperarem, já que, até aqui, essas idéias nunca foram colocadas em prática de forma eficiente.
Mas cuidar da memória não basta. A produção cultural -cinema, teatro, vídeo, música, seminários- precisa de atenção e recursos equivalentes.
E neste caso, o ministério aposta em investimentos privados.
É por essa razão que, ao lado dos R$ 80 milhões que serão empregados em patrimônio, o presidente Fernando Henrique Cardoso vai liberar decretos modificando o funcionamento da Lei Rouanet para torná-la mais ágil.
É junto aos empresários, em troca dos descontos no imposto de renda previstos na lei, que o governo imagina encontrar a fonte de dinheiro para a produção cultural.
Mais do que descontos em impostos, no entanto, o empresariado que patrocina eventos culturais busca retorno institucional -marketing e melhoria da imagem da empresa.
Isso só é possível para o restrito grupo dos eventos de grande porte e repercussão, geralmente com nomes já consagrados.
Por essa razão, o governo precisa entrar com dinheiro do Tesouro para garantir produções importantes do ponto de vista cultural, ainda que com pequenas chances de atrair o interesse do empresariado.
Weffort pretende cobrir essa lacuna em uma etapa posterior, com a criação da Fundação de Amparo à Cultura, idéia lançada por FHC antes mesmo de tomar posse.
Ainda que seja anunciada neste ano, a nova fundação só poderá pensar em ter recursos significativos a partir do orçamento de 96.
Outra aposta de Weffort é na capacidade de Estados e municípios entrarem com recursos para a cultura. Uma aposta a médio prazo.
Em São Paulo, por exemplo, a Secretaria de Estado da Cultura está com dificuldades até para manter em funcionamento sua própria estrutura.

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