São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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'Conservadores' vão comandar a CNBB

FERNANDO MOLICA
ENVIADO ESPECIAL A INDAIATUBA (SP)

Erramos: 18/05/95
Diferentemente do que afirmava quadro publicado à pág. 1-11 ( Brasil) da edição de anteontem, o ministro da Educação da Nicarágua em 1984, excluído pelo Vaticano da Companhia de Jesus por não ter deixado o cargo, foi Fernando Cardenal -e não Ernesto Cardenal, que foi ministro da Cultura do mesmo país entre 79 e 90.
O arcebispo de Salvador, d. Lucas Moreira Neves, 69, foi eleito ontem presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). A vitória marca o fim de uma hegemonia de 24 anos de bispos ``progressistas" no controle da entidade.
Os ``progressistas" procuraram ressaltar a atuação político-social da Igreja Católica no Brasil. Os ``conservadores" -agora vitoriosos- criticavam o que chamavam de abandono dos aspectos espirituais e religiosos da igreja.
D. Lucas venceu a eleição na terceira rodada de votação. Obteve, ao final, 145 votos contra 112 dados ao candidato dos ``progressistas", d. Jayme Chemello, bispo de Pelotas (RS).
O arcebispo de Salvador vai suceder d. Luciano Mendes de Almeida, que preside a entidade a oito anos.
D. Jayme foi depois eleito vice-presidente da entidade. Em entrevista, disse não saber se sua eleição para o cargo tinha sido um prêmio de consolação ou um sinal de uma busca de consenso. ``Pode ter sido as duas coisas", afirmou.
O segundo cargo em importância da CNBB, a secretaria-geral, também ficou na mão dos ``conservadores". O bispo-auxiliar de Brasília, d. Raymundo Damasceno, foi escolhido na primeira rodada de votação.
Seu principal adversário era d. Geraldo Lyrio, de Colatina (ES). D. Raymundo vai substituir o ``progressista" d. Celso Queiroz.
Minutos depois de sua eleição, d. Lucas evitou o rótulo de ``conservador", mas afirmou que a ``missão primordial" da igreja é de ``cunho religioso". Ele disse que ``alguma mudança haverá" durante sua gestão.
Declarou, porém que a ``promoção humana" também faz parte do trabalho da igreja.
Ao contrário de outras eleições na CNBB, desta vez o candidato eleito não alcançou a maioria de dois terços dos votantes.
Como não houve esta maioria nas duas primeiras rodadas de votação (escrutínios), d. Lucas foi eleito no terceiro (bastava ter a metade mais um dos votos).
Votações
Pela manhã, em uma prévia, d. Jayme venceu d. Lucas por 156 votos contra 149. O arcebispo de Belo Horizonte, d. Serafim Fernandes de Araújo, teve 66 votos, mas declarou que não aceitaria qualquer cargo.
Logo depois houve os dois escrutínios. No primeiro, d. Lucas teve 131 votos contra 126 de d. Jayme; no segundo, 133 contra 120; no terceiro, houve um voto nulo e um em d. Marcelo Cavalheira, de Guarabira (PB).
Para o bispo de Jales (SP), o ``progressista" d. Demétrio Valentim, a eleição pode ter sido decidida pelos bispos mais novos. O papa João Paulo 2º nomeou mais da metade dos bispos brasileiros.
Na entrevista, em meio aos elogios a d. Luciano, d. Lucas demonstrou que a entidade terá um novo rosto a partir de sexta-feira, quando ele assumirá o cargo.
Ele se disse favorável a algumas reformas constitucionais, ainda que com a ressalva que estas não podem afetar direitos sociais garantidos pela Constituição de 1988. D. Luciano tem feito críticas à reforma constitucional.
Risonho, com as mãos um pouco trêmulas, o arcebispo de Salvador negou que tenha feito campanha para ser eleito. Disse que não queria o cargo por três razões: sua idade, o excesso de trabalho em sua arquidiocese e as tarefas decorrentes das funções que ocupa no Vaticano.
Ele disse que aceitou a presidência porque diversos colegas o procuraram para dizer que os interesses da igreja ficavam acima de seus problemas pessoais.
D. Lucas chegou a citar um salmo bíblico para dizer que estava colocando suas preocupações nas mãos de Deus.
A vitória foi comemorada por bispos como d. Karl Romer, auxiliar na arquidiocese do Rio e um dos principais teóricos ``conservadores" da igreja brasileira.
``Estou contente. Foi muito bom. D. Lucas tem grande clarividência das coisas da igreja e do mundo", disse.
D. Jayme Chemello, apesar de elogiar o adversário, demonstrou que está disposto a não abandonar a linha da atual direção da CNBB. ``Não estou disposto a retrocessos", disse.

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