São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Boa vontade banaliza 'Sistema'

DA REDAÇÃO

Boa vontade banaliza 'Sistema'
Sistema era uma palavra muito usada, em certa época, pela esquerda. Havia nesse emprego uma espécie de intimidade que vinha do conhecimento (suposto, em todo caso) dos rumos da história e permitia designar o sistema capitalista assim, pelo primeiro nome.
Os distribuidores brasileiros deste filme que a Globo exibe hoje, à 0h, pegaram a coisa no ar e deram-lhe o título, apropriado, de "O Sistema". Mais apropriado, esta é a verdade, do que o próprio filme. Tratava-se de verificar o funcionamento do sistema penitenciário: como mecanismos sádicos se desencadeiam numa cadeia, de maneira quase científica, e perpetuam a opressão dos detentos.
O filósofo francês Michel Foucault foi mais longe na observação de instituições que isolam pessoas. Para Foucault a questão nunca foi "recuperar para a sociedade". Bem ao contrário, a função das penitenciárias seria (repito suas conclusões de memória e muito genericamente) criar e alimentar um meio criminal, indispensável ao funcionamento da sociedade.
Se "O Sistema" tem um mérito, é mostrar como isso pode se acontecer. Se tem um defeito, é trocar a descrição exata por um tom denunciativo mais ou menos permanente. Quase toda vez que um filme entende abandonar o terreno que lhe é próprio -o de mostrar- pelo de militância, acaba enfiando os pés pelas mãos e trocando os fatos por ideologia ou boa vontade.
O "quase" fica por conta de certas exceções. Como "A Marselhesa", de Jean Renoir, Renoir em dado momento pára o filme só para mostrar como se carregava uma carabina no fim do século 18. Basta isso para reconstituir uma época. Daí em diante, embarcamos e o seguimos. Essa carabina é, em outras coisas, o que falta a "O Sistema".
(IA)

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