São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Fiaminghi faz cromatismo sem apelação

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Exposição: Corluz 1995
Artista: Fiaminghi
Onde: Galeria São Paulo (r. Estados Unidos, 1.456, tel. 011/852-8855, Jardins, zona sul de São Paulo)
Quando: abertura hoje, às 21h; até 5 de junho
Visitação: de segunda a domingo, das 10h às 22h
Preço: R$ 5.000 (cada tela)

Até os fregueses de vernissages vão se impressionar, entre uma bandeja de vinho branco e outra, com as cores ``intensas" da pintura de Fiaminghi que a Galeria São Paulo mostra a partir de hoje.
Não é à toa que elas fazem parte da série que se chama ``Corluz". Ganham sua vibração das tintas sobrepostas e pinceladas curtas aplicadas -a óleo, nestas 13 pinturas inéditas- por ele.
Mas não se deixe embriagar. Há mais do que cores vibrantes aí. A pintura de Fiaminghi nasce do casamento da intensidade das cores com sua disposição estruturada.
Traduzindo: Fiaminghi parece buscar o meio-termo entre o informalismo, a pintura de formas livres, e o construtivismo, em que existe uma estrutura definida antes da aplicação das cores.
Ele veio do construtivismo. Nascido em 1920, começou estudando artes gráficas e, entre 1955 e 1960, participou do Grupo Ruptura, ao lado de Waldemar Cordeiro, Mauricio Fejer e outros concretistas de São Paulo.
Fez naquela década importantes trabalhos de pesquisa visual como a série ``Virtual", próxima da op art, em que a pintura brinca com o olho, confundindo figura e fundo, provocando uma ilusão de movimento na geometria da tela.
Depois Fiaminghi passou a usar a cor como instrumento dessa confusão de planos, contrapondo as complementares, como verde e magenta, às primárias, como amarelo e azul, o que se vê na galeria.
As tintas superpostas e justapostas, mais a alternância das figuras (triângulos ou semicírculos variando ao longo de linhas verticais), são a estratégia: organizam a luz, criam uma intensidade equilibrada. Fazem um cromatismo sem apelo.
Mas é um desafio e tanto; logo, produz resultados irregulares. Das 13 telas expostas, não mais que três são totalmente satisfatórias.
O resto delas padece, especialmente, de um desenho muito marcado e rudimentar, como as de bolotas bicolores flutuando numa estrutura bem-comportada. Quando o estilo tende ao formalismo, as cores se tornam acessórias.
Mas algumas valem a visita (e o dinheiro: R$ 5.000 é bem menos que muito borra-tintas estreante tem cobrado por aqui). Em ``Corluz 9204", a cor de mamão atravessa o fundo verde como se fosse um ideograma chinês, o qual poderia significar ``outono".
Outra notável é ``Corluz 9410", em que triângulos em três tons próximos (vermelho, carmim e laranja) balançam sobre o fundo azul como bandeirinhas de Volpi na horizontal; parecem até girar. Há profundidade sem uso de perspectiva. Mesmo que tanta sutileza não combine com canapé murcho.

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