São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Reformas atingem 40 bancos na Argentina

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

Um dia depois de ter sido reeleito, o presidente Carlos Menem pôs em prática ontem medida do Banco Central que deverá resultar no fechamento, ou fusão com outras instituições, de 40 bancos até o final de 1995.
Desde ontem, todos os bancos em dificuldades financeiras que tomaram US$ 2,6 bilhões em empréstimos do Banco Central estão obrigados a deixar como garantia ao BC 51% de suas ações.
Na prática, isso significa que o Banco Central poderia ser o novo proprietário destas 40 instituições, que tomaram empréstimos do governo argentino e não têm recursos para pagá-los.
Mas a intenção do ministro da Economia, Domingo Cavallo, não é esta.
Ao contrário, a idéia é que bancos privados de primeira linha (grandes bancos que têm prestígio e confiabilidade no mercado) comprem as ações e passem a incorporar as instituições que estão com problemas.
Antes mesmo das eleições, Cavallo e o presidente do Banco Central, Roque Fernández, começaram a discutir com os maiores bancos do país (Rio, Galicia, Roberts e Francés), a aquisição das instituições que julgam ter problemas financeiros incontornáveis.
Todos colocam limites de saques dos correntistas porque estão insolventes.
Insolvência é a situação de incapacidade de pagar os compromissos em dia.
Pelas próprias normas do Banco Central, os 40 bancos teriam de ser liquidados, da mesma forma como é decretada a falência de uma empresa insolvente.
Por determinação do presidente Menem, o Banco Central adiou a intervenção nesses bancos e a reforma do sistema financeiro por causa das eleições.
Neste período, muitas instituições lançaram mão outras formas de financiamento, como o chamado fundo de socorro ao setor bancário e o redesconto (empréstimo) do Banco Central.
As linhas de redesconto do Banco Central possibilitavam às instituições fazer caixa para novas operações, sem ficar imobilizadas, esperando a entrada de novos créditos ou de recursos provenientes do vencimento de títulos.
Desde ontem, todos os bancos com problemas que recorreram ao Banco Central terão de suspender os redescontos e deixar, como garantia pelos recursos obtidos, 51% das ações.
Essa medida é o primeiro passo para iniciar a reestruturação do sistema bancário, porque obriga as instituições insolventes a negociar a venda do controle acionário com bancos maiores.
Esse processo utilizará o equivalente a US$ 2,5 bilhões de recursos externos -oriundos do FMI (Fundo Monetário Internacional), de bancos comerciais e do Banco Mundial.
Até agora, Cavallo não utilizou nenhum centavo desse fundo. Estava aguardando o resultado das eleições para começar as mudanças no sistema bancário.
A reforma financeira é essencial para recuperar a confiança dos argentinos e investidores estrangeiros no sistema.
Desde a desvalorização do peso mexicano, em 19 de dezembro de 1994, até final de abril passado, US$ 7,5 bilhões saíram do sistema bancário e não retornaram.
Foram para debaixo do colchão, cofres particulares ou contas no exterior.
Cerca dos 200 bancos atuais serão 100 dentro de um ano, de acordo com prognóstico realizado pelo ministro Cavallo.

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