São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Vitória de Menem

País enfrenta superinflação, adota um plano econômico que derruba drasticamente as taxas e dá a seu responsável a vitória na eleição presidencial. Esse roteiro, seguido pelo Brasil no ano passado, repetiu-se agora na Argentina, com a reeleição do presidente Carlos Saúl Menem, mostrando mais uma vez o gigantesco impacto do controle da inflação para a população em geral.
Aliás, é tão poderoso o atrativo dos preços estáveis que, assim como Fernando Henrique Cardoso, também venceu no primeiro turno. Assim como aqui, o resultado teve considerável efeito tranquilizador sobre os mercados. Ontem, subiu a cotação dos títulos da dívida externa da Argentina e do Brasil, o que mostra como esses países estão ligados aos olhos internacionais.
As semelhanças, contudo, também se revelam no que se refere à dificuldade das tarefas que se seguem à eleição: consolidar a estabilidade e avançar rumo a um desenvolvimento também sob o ângulo social. E nesse aspecto a Argentina, como o Brasil, possui desafios próprios e respeitáveis a enfrentar.
A crise do México afetou de forma particularmente dura a economia vizinha. A desaceleração econômica que já se vinha sentindo acentuou-se, dificultando ainda mais a difícil promessa de Menem de reverter a tendência de alta nos índices de desemprego.
Os problemas atingem também a âncora da estabilização argentina, que é a paridade dólar-peso. Fixada em 91, essa relação defasou-se em mais de 50% nos últimos anos, gerando desequilíbrios externos.
Os influxos de capital que compensavam essa situação escassearam depois do México, disseminando uma sensação de incerteza que provocou uma preocupante fuga de recursos do sistema bancário. O pior da crise parece ter passado, mas a volta daqueles capitais ainda é incerta (depende da restauração da confiança) e se espera uma profunda cirurgia no setor financeiro.
Por mais que o governo privatize o que sobrou nas mãos do Estado, opere novas reformas administrativas, corte gastos, uma questão central continua sendo o câmbio. A vitória de Menem pode ter adiado seu enfrentamento, mas ela continua lá. Por agora, entretanto, a tensão foi no mínimo um pouco aliviada. E não só para a Argentina, como também para o Brasil.

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