São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Os novos "balseros"

CLÓVIS ROSSI

BUENOS AIRES - Não parece exagero dizer-se, a partir dos resultados das eleições argentinas, que metade dos latino-americanos vota pela estabilidade, mas a outra metade navega à deriva.
São os ``balseros" de um modelo econômico do qual ou sentem excluídos ou no qual não estão cômodos, seja material, seja psiquicamente.
Tanto na Argentina como no Brasil, mais ou menos a metade votou pelo símbolo da estabilidade (Fernando Henrique Cardoso no Brasil, Carlos Menem na Argentina). Peru e Uruguai representam os casos extremos nos números, mas não no significado.
No Peru, Alberto Fujimori, com seus 55%, foi algo além de seus colegas brasileiro e argentino. Já no Uruguai, o voto repartiu-se em três porções mais ou menos idênticas.
Ou, como prefere o analista argentino do jornal Página 12, José Maria Pasquini Durán: ``Prevalece a sensação, instalada pelo neoliberalismo, sobre a inevitabilidade do ajuste estrutural e a ausência total de alternativas `realistas', não ideais, que possam substituí-lo em nome da justiça social e da honestidade administrativa".
Nesse vácuo, vão ganhando sucessivamente os candidatos continuístas, os que conseguiram domar a inflação que açoitou implacavelmente a região nos anos 80 e, em alguns casos, invadiu os 90.
Mas é óbvio que a estabilidade, por mais valioso cabo eleitoral que se mostre eleição após eleição, não dissolve uma difusa sensação de mal-estar.
É eloquente uma pesquisa da empresa Demoskopia com 2.021 jovens da capital e da Grande Buenos Aires. Mostra que 33,4% acham que os jovens não têm espaço no mercado de trabalho, contra apenas 21,3% que julgam a Argentina um país ``no qual crescem a capacidade produtiva e as oportunidades de trabalho".
Mais eloquente ainda se se considera que a economia argentina cresceu, nos últimos quatro anos, imponentes 34%.
Parece evidente que paira sobre a estabilidade a sensação de que ela se mantém à custa de um determinado nível de exclusão dos ``balseros" que não cabem na suposta modernidade.

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