São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 1995
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Onde anda o Guarda Belo?

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO - Há duas imagens de minha infância que permanecem muito vivas na lembrança. Ambas envolvendo polícia e ambas, pasme, boas, agradáveis lembranças.
Uma delas traz de volta o guarda civil, integrante de uma corporação policial existente em São Paulo até o começo da década de 60, extinta pelo governo militar.
O guarda civil era o máximo: uniforme azul-marinho, luvas brancas, cordão dourado descendo do ombro até o cinturão negro, quepe ou capacete, este último também branco para os guardas de trânsito.
Sim, porque os guardas civis cuidavam do trânsito, cuidavam também das crianças na saída da escola e cuidavam dos frequentadores das igrejas, dos teatros e dos cinemas.
Gostoso dizer que o guarda cuidava da gente, que era isso mesmo o que eles faziam. Claro que tinham arma, corriam atrás de bandido, aplicavam multas, prendiam etc.
Mas sua especialidade era mesmo tomar conta da população. E a população adorava seus guardas civis, que foram obrigados a mudar de profissão ou virar PMs.
A outra imagem de que falei também é da infância, aparentemente boba, mas comum a todos os que um dia ficaram -ou ainda ficam- diante de um desenho animado da TV e sabem quem é o Guarda Belo.
Aquele mesmo que vive às turras com o Manda Chuva e sua turma de gatos malandros. Acaba sempre se metendo em encrencas por causa dos gatinhos endiabrados.
Mas está ali, no bairro dos gatos, conhece todo mundo, todos os becos, e, apesar da rivalidade com os felinos, é amigo inclusive deles. Afinal, é o guarda da área e também cuida dos que não querem cuidados.
Todas essas lembranças vêm a propósito dos tempos atuais de violências, as policiais principalmente.
Que falta faz o guarda civil, amado pelas mães, por alunos, taxistas, comerciantes. Onde anda o Guarda Belo que não toma mais conta do bairro, dos becos, que não faz a ronda para cuidar da gente?
O uniforme azul-marinho e as luvas brancas do guarda civil foram trocados por roupa camuflada e touca ninja. E o Guarda Belo, bem, este pode ser aquele policial que tomou um tiro na cabeça depois de ser identificado por traficantes na boca da favela.

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