São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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Como sofrer em restaurante cinco estrelas

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Sábado destes, fui saborear a celestial feijoada preparada pelo amigo Massimo ``máximo" Ferrari em seu restaurante da alameda Santos.
À porta do restaurante, chamava atenção um Corvette de safra recente estacionado sobre a calçada.
Como em minhas veias corre gasolina em vez de sangue, herança de pai e mãe ex-corredores de carro, não pude deixar de me deter alguns minutos para apreciar a máquina.
Nem bem me aproximei do veículo, porém, um balofo e ofegante guri, de no máximo uns 11 anos, (desses que, por desgosto, a gente olha e logo pensa: ``Deve ter uma mãe irresponsável, que nunca ouviu falar em artéria entupida"), resolveu alugar minha orelha para me atualizar sobre a cotação dos carros importados. De ``kit Miami" completo, boné dos Lakers, relógio Timex Ironman e tênis Nike, o meninão me relatou (em dólar e em real) o preço de todos os carros que seu pai ``estava pensando em comprar".
Apesar do prelúdio infame, prossegui na intenção de comer a melhor feijoada ítalo-brasileira do cosmos. Mas aquele não era certamente o meu dia. Assim que me acomodei à mesa, outra figura hiperbólica adentrou o salão e sentou-se com pompa e circunstância a três mesas da minha. Ele mesmo, o ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho.
Temi pelo pior: ``Daqui a um segundo vão começar a voar tomates (aqueles secos que o Massimo serve de ``antepasto") em direção a cabeça do ex-governador".
Ledo engano! A elite tapuia é civilizada. Teve educação londrina, Londrina do Paraná -sem querer ofender a dinâmica cidade.
A elite tapuia é capaz de comer tranquilamente no mesmo recinto que o governador Banespa sem deixar cair o guardanapo.
Minutos depois que se sentou à mesa, Fleury começou a receber uma caravana de admiradores ávidos por apertar-lhe a mão. Um dos primeiros a fazer o ``baciamano" (o beija-mão) foi justamente o pai do gordinho especialista em preços de importados. Como meu coração é de ouro, poupo o leitor dos detalhes de minha digestão naquela infeliz tarde de sábado...

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