São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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Drogas e baixaria

THALES DE MENEZES

Roupa suja se lava em casa, mas tem gente que não se convence disso. O alemão Boris Becker é uma dessas pessoas. Derrotado na final do Aberto de Mônaco pelo austríaco Thomas Muster, num jogo eletrizante que durou cinco sets, Becker insinuou que seu adversário teria jogado dopado.
É verdade que Becker não usou a palavra doping em nenhum momento, mas suas ironias estavam carregadas de insinuações.
Segundo ele, Muster demonstrou exaustão total na véspera da partida, quando venceu uma semifinal duríssima, e depois jogou com facilidade cinco sets num calor escaldante.
Muster está em Roma, disputando o Aberto da Itália, e ontem botou a boca no trombone, reclamando muito da Associação dos Tenistas Profissionais.
O austríaco disse que a ATP tinha obrigação de punir Becker pela insinuação de doping. ``Eu penso que a ATP deveria fazer algo para o bem de sua credibilidade", disparou o tenista.
Becker deve ser chamado a prestar explicações à entidade. Não é a primeira vez que o tenista alemão e a ATP se entrelaçam numa polêmica envolvendo doping.
Há dois anos, Becker deu entrevista declarando que muitos tenistas do circuito profissional se dopavam e que a ATP nada fazia para coibir essa prática.
A entidade respondeu prontamente, afirmando que realizava periódicos exames antidoping em todos os torneios do circuito, sem encontrar nenhum caso positivo.
Becker permaneceu no ataque e, sempre irônico, disse que deveria ser um sortudo, já que nunca teria feito qualquer exame.
Naquela época, todos os tenistas de topo de ranking consultados por este repórter também admitiram nunca ter visto um frasco de exame antidoping na vida.
Meses depois, Becker compareceu a uma festa promovida pela ATP e retirou as declarações, afirmando ter sido mal interpretado pelos jornalistas.
Desta vez vai ser difícil que a coisa acabe em pizza. O assunto doping está ganhando espaço no cenário tenístico e a ATP precisa mostrar resultados.
Ex-tenistas como Yannick Noah e Guillermo Vilas falam abertamente de um consumo constante de drogas entre os atletas das décadas de 70 e 80.
Pode ser que Becker esteja delirando ao apontar o dedo acusador para Muster, mas uma polêmica dessas serve para cutucar uma ferida incômoda no tênis.

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