São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995 |
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'Assassinos' sofre envelhecimento precoce
RICARDO CALIL
Hoje, passada a anestesia provocada pela estilização da violência e a pirotecnia de imagens, a segunda alternativa parece mais verdadeira -pelo menos para o caso deste filme. Se um dia a obra de Stone for lembrada (hipótese por si só discutível), certamente não será por ``Assassinos por Natureza". O filme sofre de envelhecimento precoce. Qualquer ``Pulp Fiction" faria seus ``fãs incondicionais" esquecê-lo. E assim foi. Quentin Tarantino, aliás, assina o roteiro no qual ``Assassinos por Natureza" se baseou livremente. Um casal de sociopatas -Mickey (Woody Harrelson) e Mallory (Juliette Lewis)- percorre os EUA matando pessoas e se transforma em celebridade nacional pelas mãos da TV, principalmente do apresentador interpretado por Robert Downey Jr. Com a ajuda deste roteiro, Oliver Stone realizou um ``pot-pourri" de seus piores e mais recorrentes defeitos, a começar pela presença deslocada de sua mitologia pessoal. Como em ``The Doors", o cineasta solta mais uma vez cobras, lagartos e índios na tela. Mas o aspecto essencial de ``Assassinos..." diz respeito menos ao que Stone mostra e mais ao como ele mostra. No filme, a forma é o conteúdo e o conteúdo, quase nada. Embora permaneça como a experiência mais radical (no sentido do excesso) realizada na edição de cinema até hoje, o conceito do filme -de cortes abruptos e mistura de linguagens (35mm, 16mm, vídeo, super-8)- parece antiquado até para um videoclipe. Como em ``JFK", a montagem de Stone continua com aquele dom de iludir. Mas, se naquele filme ela quase nos levava a acreditar em uma conspiração contra o presidente americano, em ``Assassinos..." a edição parece contrariar as teses do cineasta. Segundo enunciado do próprio diretor, o filme pretendia atacar a banalização da imagem e da violência. Para isso, ele realizou um filme banal e violento, em que as imagens levam à hipnose, nunca ao questionamento, e a violência gera catarse, não repulsa. Descontado o aspecto delirante, mas de certa forma inovador, do visual, resta um discurso pífio e autoritário. Como nas cenas em que a expressão ``too much TV" aparece projetada sobre o casal de ``serial killers" ou quando eles matam Downey Jr., o ``homem da mídia", exemplos do simbolismo raso que permeia o filme. Vídeo: Assassinos por Natureza Direção: Oliver Stone Distribuidora: Warner Home Video (tel. 011/820-6777) Texto Anterior: "Fresh" apresenta a violência sem paixão Próximo Texto: A ingratidão não define o homem Índice |
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