São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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Liberdade de imprensa

ORESTES QUÉRCIA

Minha vida pública tem sido uma demonstração da desigualdade de forças na relação do cidadão e do político com a imprensa. Mas também da minha determinação de ir às últimas consequências, na defesa de meu patrimônio moral e para desmascarar as campanhas de desinformação contra mim encetadas.
Não titubeio em buscar na Justiça a reparação pelos danos morais a mim causados por publicações irresponsáveis. A mentira arquitetada para beneficiar pessoas, grupos e empresas; o embuste travestido de informação, a desinformação contumaz, as campanhas sórdidas, as insinuações infamantes agridem e abastardam o inalienável direito de expressão e de opinião, pelo qual lutei sem tréguas durante o regime militar.
Recentemente, por via judicial, consegui a condenação do sr. Ruy Mesquita, diretor do ``Jornal da Tarde", a três meses de detenção, pois a Justiça reconheceu o caráter torpe e abjeto dos ataques por ele assacados contra mim.
Desta feita, vou tomar providências de natureza criminal contra a revista ``Veja", da editora Abril, pela sistemática publicação de material ofensivo à minha imagem e honorabilidade. A arrogância, a prepotência, a mesquinhez de ``Veja" são ilimitadas.
Em novembro de 1992, reciclando, com notória experiência e evidente prazer, os detritos do lixo autoritário, a revista publicou uma matéria de capa a meu respeito, sob o título ``O político de 52 milhões de dólares". Dei à ``Veja" uma resposta concreta e irrespondível: coloquei à venda os bens avaliados pela revista, através dos principais jornais do país, por 1/4 do valor a eles atribuído por um repórter que, ao invés de apurar corretamente as informações -e ao menos registrar na matéria os documentos por mim apresentados-, preferiu ser apenas um dócil cumpridor de tarefas.
Por falta de ética, de espírito investigativo e de respeito aos leitores, ``Veja" não teve a hombridade de expor seus preconceitos ao crivo de avaliadores idôneos e imparciais, não procurou verificar se alguma propriedade fora vendida e por quanto, não averiguou se apareceram compradores -não teve, enfim, o procedimento jornalístico trivial em órgãos de imprensa minimamente respeitáveis.
Em tempo: não apareceu ninguém disposto a comprar as propriedades que anunciei por 25% da avaliação fantasiosa, feita por um repórter incompetente e a serviço de uma impostura.
Apesar dessa e de outras ``reportagens" mal-intencionadas, nas quais o ``veredicto" da Redação foi anterior ao trabalho de elaboração da matéria, até agora não promovi qualquer ação judicial contra ``Veja", por considerar que, passado o período eleitoral, com a vitória do candidato ostensivamente patrocinado pela editora Abril em diversos de seus veículos, a revista assumiria pelo menos alguns princípios éticos mínimos, adotaria algum grau de imparcialidade e um certo alento para investigar e checar os fatos.
Infelizmente, nada disso aconteceu. Pior: no meu caso (há outros), ``Veja" renunciou à fabricação de matérias facilmente identificáveis como peças de campanha, substituindo-as por insinuações covardes, falaciosas, malévolas e irresponsáveis. Como todos sabem, dez entre dez covardes preferem a insinuação venenosa a uma afirmação que possa ser desmentida e produzir resultados desagradáveis no âmbito da Justiça.
Em recente edição, por exemplo, a revista grafou meu nome, em uma matéria, como ``Orestes Andrade Gutierrez Quércia". O que pretende insinuar o autor da nota, já que lhe faltam a hombridade e a dignidade necessárias para o ataque direto?
Fui governador do Estado de São Paulo e, em meu governo, todos os fornecedores foram indistintamente tratados como manda a lei. Se o autor da reportagem não concordar com a minha afirmação, terá oportunidade de tentar explicar sua insinuação na Justiça.
Outro exemplo: em matéria publicada há poucos dias, meu nome e minha foto foram colocados por ``Veja" ao lado do nome e da foto do ex-presidente do Metrô, Antonio Sergio Fernandes. Ora, o senhor Antonio Sergio Fernandes não tem qualquer vinculação comigo, tanto que entrou para o meu governo a pedido do atual governador paulista, Mário Covas, então membro do PMDB.
Sempre respeitei a imprensa e tratei dignamente seus representantes. Nunca pedi favores a jornalistas ou tentei aliciá-los para minhas campanhas eleitorais. Quem pode testemunhar isso são os muitos jornalistas que me conhecem há anos.
Respeito todas as correntes de opinião, pois é a pluralidade que caracteriza o Estado de Direito, garante o vigor democrático e fortalece a cidadania. Mas estou decidido a lutar com todas as minhas forças para impedir que certos órgãos de imprensa continuem a exercer o papel de ferramentas de interesses pessoais inconfessáveis e de divulgadores de mentiras, calúnias, desinformação e insinuações falsas e pusilânimes.
Não saímos de uma ditadura militar para cair na ditadura de alguns donos de jornais e revistas.

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