São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 1995
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A conta dos inocentes

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - A greve dos petroleiros tem um lado dramático: as dezenas de demissões de chefes de família que, em breve, vão entrar no desespero diante de suas contas. De quem é a culpa?
Minha opinião: os demitidos deveriam exigir indenização do sindicato, da CUT e até do PT. Receberiam uma ajuda até que conseguissem emprego, a ser descontada, por exemplo, dos rendimentos de Vicentinho e Lula.
Seguindo a trilha de Vicente Paulo da Silva, da CUT, o presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, acusou ontem o governo de apostar no ``quanto pior, melhor", denunciou um plano do Palácio do Planalto para desgastar as lideranças sindicais e, ao mesmo tempo, aprovar a quebra dos monopólios.
Suponha-se que Lula esteja absolutamente correto; suponha-se também que a greve dos petroleiros seja justíssima. Mesmo assim, o sindicato, a CUT e o PT deveriam ser responsabilizados por patrocinar uma aventura. Explico.
No momento em que a greve foi considerada abusiva, as lideranças deveriam ter um mínimo de bom senso, evitando um desastre. Qualquer menino sabe que, numa democracia, não se faz greve contra a Justiça; do contrário, as regras de convivência entram em colapso.
Se o governo concordasse em negociar com um movimento ilegal, estaria abrindo um precedente antidemocrático. Todo e qualquer grupo se sentiria no direito de desafiar decisões judiciais e, usando seus meios de pressão, obter concessões.
Óbvio que a sociedade não iria dar corda a um movimento desse tipo e, portanto, acabaria por isolá-lo. Espertamente, o Ministério das Minas e Energia anunciou ontem a possibilidade de racionamento de combustível. O que, mais óbvio ainda, estimula o governo a punir os trabalhadores.
As lideranças preferiram, porém, radicalizar. Quem sabe imaginassem que o país ainda está no regime militar, dividido entre ``bons" e ``maus". E tudo o que significasse desafio aos ``maus" era perdoado ou estimulado. Vivia-se num período de exceção em que as leis não eram, de fato, legítimas. Havia fundamento democrático em desafiá-las.
As lideranças apostaram numa maluquice e, agora, deveriam pagar a conta dos inocentes.

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