São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995 |
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CNBB vê esperança no governo FHC
FERNANDO MOLICA
Apesar de conter críticas ao governo, o documento é bem mais ameno que o divulgado, no início do mês, pela Pastoral Social da entidade. O pronunciamento foi aprovado pelo plenário da entidade, composto por bispos de diferentes tendências. Já o documento sobre exclusão social reflete a predominância dos ``progressistas" na Pastoral Social da entidade. Os ``progressistas" ressaltam a importância da atuação social da Igreja Católica; os ``conservadores" procuram subordiná-la às questões religiosas e de anúncio da mensagem de Jesus Cristo. O pronunciamento aprovado pelo plenário diz que a nação ``ainda está esperançosa" em relação à atuação do governo embora já surjam ``apreensões e dúvidas". O documento da Pastoral Social diz que aumentam ``em número e intensidade, manifestações contrárias às atitudes e propostas do governo federal". Ao abordar as reformas constitucionais, o pronunciamento divulgado ontem pede preservação dos ``direitos individuais e sociais básicos" e inclui uma crítica aos ``corporativismos". Esse termo designa a luta para preservar ou obter privilégios que só beneficiam um grupo de pessoas, seja ele uma categoria profissional ou um setor da sociedade. O governo federal tem classificado de corporativistas funcionários de empresas estatais que se colocam contra as reformas. A pastoral propõe ``reforçar a luta de setores da sociedade em defesa da Constituição" e não faz menção ao corporativismo. O texto aprovado pelos bispos não cita o programa Comunidade Solidária, presidido pela antropóloga Ruth Cardoso, mulher do presidente Fernando Henrique Cardoso. Já na avaliação da pastoral, o programa é o ``único e tímido" aceno do governo na área social. A necessidade de implementação do programa de reforma agrária e de aumento do salário mínimo são os pontos em que há maior coincidência nos dois documentos. O texto da Pastoral Social chegou a gerar uma discussão em plenário, no último sábado, entre o principal articular dos ``conservadores", d. Amaury Castanho, bispo-auxiliar de Jundiaí (SP) e o responsável pela pastoral, d. Demétrio Valentini, de Jales (SP). D. Amaury criticou a divulgação pública do ``inoportuno documento" e classificou de ``exclusivamente pessoais" as críticas ao governo feitas no texto. Por sua vez, d. Demétrio defendeu o documento e disse que o ``conservador" desconhecia o documento da pastoral e, portanto, não poderia criticá-lo. O debate do pronunciamento da assembléia também evidenciou as diferenças no episcopado. O ``progressista" d. Mauro Morelli, de Duque de Caxias (RJ), queria uma maior vinculação entre reforma agrária como ponto fundamental de uma ``política de alimentação". Não foi atendido. O bispo de Marajó (PA), d. José Luís Azcona Hermoso, não ficou satisfeito com a crítica feita no documento a uma tendência de entregar à ``lógica do mercado" a solução de problemas econômicos e sociais. Queria que esta lógica fosse classificada de ``intrinsicamente perversa". Foi derrotado. ``O documento é uma expressão do conjunto. O fato de o governo estar no começo deixou os bispos preocupados com a perspectiva de ficar malhando tudo", disse d. Waldyr Calheiros, bispo de Volta Redonda (RJ). ``Um pronunciamento como este tem que ser abrandado. Temos que medir cada palavra", disse o bispo de Juiz de Fora (MG), d. Clovis Frainer. Texto Anterior: Agricultura investe em guarda-roupa Próximo Texto: Bispos chegam a acordo sobre diretrizes Índice |
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