São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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Dois corredores de ônibus em áreas de mananciais são aprovados

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Conselho Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Cades) aprovou ontem a construção de dois corredores de ônibus em áreas de manancial de São Paulo, nas bacias das represas Guarapiranga e Billings.
Manancial é o local onde nascem represas e rios. Essas duas áreas estão em fase de deterioração, mas são preservadas pela lei estadual 1.172, de novembro de 1976. O objetivo da lei é evitar que os mananciais sejam atingidos pela poluição e acabem comprometendo a água que abastece a cidade.
A prefeitura quer construir as duas canaletas exclusivas para circulação de ônibus e alega que a situação de degeneração da região já está cristalizada e que, portanto, os corredores vão ordenar a ocupação dos bairros onde moram cerca de 1,5 milhão de pessoas, de acordo com o assessor da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, Paulo Antunes.
O corredor Rio Bonito vai ter 33,5 km. O Guarapiranga, 9,3 km. No percurso, serão erguidos terminais com minishoppings.
Depois de a decisão do Cades ser publicada no Diário Oficial, a prefeitura terá licença municipal para começar as obras. Se der início à construção, tanto a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) como a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA) pretendem paralisar a obra.
A OAB, segundo o coordenador da Subcomissão de Meio Ambiente, Antonio Fernando Pinheiro Pedro, vai pedir uma liminar (documento provisório da Justiça emitido enquanto não é julgada a ação em definitivo) barrando o corredor.
A própria OAB ingressou no ano passado com ação contra empreendimentos imobiliários irregulares na região.
``A construção do corredor é um ato de cinismo. As obras vão valorizar os terrenos para os especuladores imobiliários que invadiram a região", afirmou Pinheiro Pedro.
Segundo Helena Carrascosa von Glehn, da SMA, se a prefeitura insistir em tocar a construção dos corredores sem que o Estado analise o impacto ambiental das obras, a SMA vai pedir o embargo da construção. ``Nós queremos analisar todo o processo, já que pode deteriorar a região", disse Glehn.
Para Sergio Suiama, assessor jurídico da ONG Ansur (Associação Nacional do Solo Urbano), a aprovação dos corredores sem mecanismos para reverter a ocupação irregular da região vai aumentar ainda mais a população e incentivar a especulação imobiliária.

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