São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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Negros e homossexuais `disputam' Zumbi

PASCOAL GOMES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Um muro da casa do antropólogo e presidente do GGB (Grupo Gay da Bahia), Luiz Mott, 48, apareceu pichado na madrugada de ontem no Barris, centro de Salvador.
O carro do antropólogo, um Lada vermelho, modelo 95, também estava pichado e teve o vidro dianteiro quebrado.
Mott criou polêmica com a comunidade negra de Salvador ao publicar um artigo no jornal ``Bahia Hoje", de Salvador, na última segunda-feira, levantando a hipótese de que Zumbi dos Palmares, líder negro da época da escravidão, seria homossexual (leia texto nesta página).
As expressões ``Zumbi Vive" e ``Zumbi Filho" foram escritas no muro e no carro de Mott. Ele disse que não ouviu barulho.
Pela manhã, Mott deu queixa na 1ª DP (Delegacia de Polícia). A polícia determinou uma perícia no carro do antropólogo.
``Foi a primeira reação violenta ao meu artigo. Até agora, não havia recebido sequer uma ameaça verbal", disse Mott.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) divulgou ontem uma nota em repúdio ao artigo de Luiz Mott. A nota classifica o artigo como ``nocivo e oportunista".
A CUT também se posicionou contra a suposta tentativa de intimidação ao antropólogo.
``Nós repudiamos qualquer violência", disse Roque Assunção da Cruz, diretor da Executiva Nacional da Comissão Anti-Racismo da CUT e integrante do MNU (Movimento Negro Unificado) da Bahia.
``Quem pichou a casa de Mott quer indispor a comunidade negra com o Grupo Gay da Bahia", disse Cruz. ``Mas tudo pode ter sido armado pela mente maquiavélica do professor Luiz Mott."
O ano de 1995 marca os 300 anos da morte de Zumbi -um dos principais organizadores do Quilombo de Palmares, onde hoje é o Estado de Alagoas. Quilombos eram áreas ocupadas no Brasil por escravos fugitivos, entre os séculos 17 e 19.

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