São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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Arnaldo Baptista compõe para curta sobre loucura

FILME DEMÊNCIA

IVAN FINOTTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Treze anos depois de pular do terceiro andar do prédio de psiquiatria de um hospital paulistano, Arnaldo Dias Baptista, 46, entra em estúdio para compor a trilha sonora de sua queda.
Arnaldo, fundador dos Mutantes -banda que introduziu a guitarra na MPB nos anos 60-, foi convidado pelos diretores Christian Saghaard, 24, e Carlos Botosso, 21, para musicar o curta-metragem ``Sinhá Demência e Outras Histórias".
O filme, de 15 minutos, traz vários esquetes sobre a loucura. No último, um dos personagens se joga da cobertura de um prédio.
``Foi justamente esta a cena de que eu mais gostei", disse Arnaldo, que compõe para um filme pela primeira vez.
Segundo os diretores, a cena do suicídio não foi inspirada na queda de Arnaldo. ``Mas, durante a filmagem, percebemos a coincidência", diz Saghaard.
Arnaldo mora há 11 anos em um sítio em Juiz de Fora (MG) com sua atual mulher Maria Lúcia. Veio para São Paulo para, entre outros projetos, musicar ``Sinhá Demência".
As gravações, realizadas há duas semanas, duraram dois dias em um estúdio em Moema (zona sul). Uma televisão e um videocassete foram instalados para que o compositor acompanhasse as imagens enquanto tocava.
Sua única exigência, atendida, foi usar instrumentos da marca Gibson e amplificadores valvulados -que usam válvula em vez de transistor para amplificar o som.
Arnaldo preferiu gravar sem compor nada antes. O procedimento usado foi mostrar o filme enquanto o ex-Mutante improvisava durante os 15 minutos.
O primeiro instrumento gravado foi o piano, seguido do baixo, da guitarra, da bateria e dos efeitos do teclado. Por último, o próprio Arnaldo mixou as cinco faixas, juntando-as em uma única. O resultado foi uma completa anarquia sonora.
Durante as gravações, Saghaard chegou a duvidar que a música ficasse satisfatória. Voltou atrás após ouvi-la pronta. ``O problema é que o Arnaldo desmontou nossa idéia. Estávamos gostando, mas não entendíamos nada. Agora, vendo e ouvindo o resultado, tudo bem que a idéia inicial foi desmontada", disse o diretor.
Saghaard não pode reclamar da improvisação. ``Foi parecido com as filmagens porque a gente inventava muitas cenas na hora. Arnaldo fez o mesmo com a música."
Em fase de finalização, ``Sinhá Demência e Outras Histórias" deverá estar pronto ainda este mês. Várias festas de lançamento estão sendo programadas. A produtora Paraísos Artificiais, responsável pelo filme, planeja inscrevê-lo em festivais.
Projetos
Além de musicar ``Sinhá Demência", Arnaldo Baptista toca três outros projetos em São Paulo.
Quer lançar três de seus discos independentes -``Singing Alone", ``O Elo Perdido" e ``Faremos uma Noitada Excelente"- no formato CD.
Ele tenta também expor seus quadros no Instituto Cultural Itaú. E pedirá um patrocínio à marca de guitarras Gibson por citá-la em quase todas as entrevistas que deu nas duas últimas décadas.

ONDE ENCONTRAR as camisetas pintadas por Baptista: Baratos Afins (av. São João, 439, 2º andar, loja 316/318, tel. 011/223-3629) e Bar Superbacana (rua Girassol, 354, tel. 011/211-4615)

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