São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nuvens sobre o Sivam

Em se tratando de um projeto bilionário, teoricamente de grande importância para a segurança nacional, o empenho do governo em esclarecer à sociedade todas as suspeitas que cercam o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) deixa cada vez mais a desejar. Aliás, há dúvida se essa intenção existe mesmo, na medida em que os esforços que se vêem apontam para uma direção diferente. O caso da Esca é bastante ilustrativo.
Apresentada como uma empresa idônea, de total confiança do Executivo e acima de qualquer suspeita -atribuições que lhe garantiram o milionário gerenciamento do Sivam sem uma concorrência pública-, a Esca viu-se enredada numa teia crescente de acusações e evidências de irregularidades, incluindo até a falsificação de guias de recolhimento previdenciário.
Face a todas as dúvidas, o governo parece esforçar-se para fingir que nada aconteceu. Deu um prazo à Esca para pagar sua dívida junto à Previdência como se isso bastasse para resolver o problema e, diante do não cumprimento por parte da empresa, acabou de conceder-lhe ainda mais uma semana. É mais um lance na já intrigantemente próxima relação mantida pela Esca com diversas esferas do governo federal.
O mais inquietante de tudo é que essa é apenas uma parte das dúvidas que cercam o Sivam, e que se referem até mesmo à própria necessidade e conveniência do projeto nas bases em que foi concebido. Há, por exemplo, quem defenda que o projeto pode ser realizado por empresas brasileiras, em parceria com estrangeiras se necessário.
É dever mínimo do governo retirar o caso do véu de obscuridade que o recobre e dar à sociedade todos os esclarecimentos cabíveis. Mas tantas são as nuvens que cada vez mais parece uma alternativa adequada recomeçar todo o processo, remontando o empreendimento e partindo de uma -agora- verdadeira e aberta licitação. Deixar que o projeto avance como está seria um acinte aos contribuintes cujos bolsos financiam o Sivam.

Texto Anterior: STF
Próximo Texto: O coronel
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.