São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 1995
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Qual o problema de Brizola?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Não sei dizer se Leonel Brizola está perturbado emocionalmente, suas funções cerebrais sentem o peso da idade ou se ele apenas enganava quando fazia juras de amor à democracia, escondendo uma vocação autoritária.
O fato é que ele provocou um susto. E apareceu como uma espécie de versão brasileira do Vladimir Jirinovski, o tresloucado político russo, ao defender uma ação militar.
Incrível que alguém de seu porte político tenha a coragem de pedir uma intervenção militar contra o Congresso e Presidência da República, aborrecido com as reformas constitucionais e privatização.
Ao pedir um golpe, Brizola se imagina respaldado por grupos militares da reserva, supostamente nacionalistas. É gente que, no seu ócio remunerado, vê complôs, cultiva saudades da ditadura e, a cada pretexto, reitera seu desprezo pelos civis -o que, na verdade, é o desprezo pela democracia.
Gostaria sinceramente de imaginar que a declaração de Brizola é um detalhe isolado. Tenho escrito que a democracia brasileira está ainda firme, mas longe de ser sólida. Daí, por exemplo, o perigo de um movimento grevista que aposta na ilegalidade como um instrumento de barganha.
Daí também ser espantoso que um governo do Rio tenha convidado Nilton Cerqueira para secretário de Segurança. Sempre da linha dura das Forças Armadas, ele comandou o Doi-Codi em Salvador, caçando ``subversivos".
É terrível para o governador Marcello Alencar que, no passado, defendeu presos políticos. Uma vergonha extensiva a seu partido, o PSDB, que vai mostrando a olhos vistos tecidos necrosados.
PS - Em contato ontem com essa coluna, o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, criticou a imprensa no caso da greve dos petroleiros. ``Vocês não estão percebendo que o erro inicial foi do governo que induziu os petroleiros ao erro, ao assinar um acordo salarial inepto. O resto é consequência." Também em contato com esta coluna, Clóvis Carvalho, chefe do Gabinete Civil, admitiu o risco de escassez generalizada de combustível e ponderou: ``Nem por isso vamos nos render a uma chantagem".

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