São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Índio mostra indiferença

PAULO YAFUSSO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM DOURADOS

O suicídio de parentes é tratado com indiferença pelos índios guaranis e caiuás. O caiuá João Nito Cabreira, 79, falou à Agência Folha sobre o suicídio de seu filho, Agnaldo Cabreira, sem demonstrar qualquer comoção.
Ele levou a reportagem ao local onde o filho se enforcou, em uma pequena árvore na mata perto de sua casa.
Cabreira disse que, diferentemente do que fazia todos os dias, Agnaldo não tomou chimarrão (mate típico do sul do Brasil) com ele após o almoço em 27 de julho de 93. Por volta do meio-dia, foi para o mato e se enforcou, sem motivo aparente.
Em 20 de abril passado, Wilson Soares, 15, enforcou-se em uma árvore ao lado da estrada de acesso à sua casa. Ele havia se casado dois meses antes de morrer. Não bebia ou fumava.
Segundo Demilson de Souza, 29, tio da garota com quem Wilson havia se casado, o rapaz se matou porque gostava de outra.
Para o cacique-rezador (líder religioso) Paulito Aquino, que diz ter 105 anos, a causa dos suicídios é o "feitiço". Os feitiços seriam feitos pelos índios por causa de conflitos na aldeia. Segundo ele, a pessoa enfeitiçada é tomada pelo espírito do mal e acaba se suicidando na mudança da lua.
Reunidos de 13 a 17 de maio na aldeia Bororó, 16 caciques de todas as aldeias guarani e caiuás do Estado concluíram que, para acabar com os suicídios, é preciso terminar com os velórios (prática dos brancos), e o suicida deve ser enterrado onde morreu, de bruços, de frente para o poente, forma de afastar os espíritos que levaram a pessoa a se matar.
Para os caciques, quem se mata age contra Deus e sua missão na Terra.
(PY)

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