São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Preço do dinheiro é tema controverso

GILSON SCHWARZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Juro deve ser o assunto mais misterioso e controverso da história do pensamento econômico. Antes mesmo de existir Ciência Econômica, os doutores da Igreja, amparados na Escolástica, já condenavam a usura como manifestação diabólica. Talvez algum tipo de pavor mítico diante dos juros tenha contaminado para sempre o pensamento econômico moderno.
Afinal, não é realmente fácil explicar como o dinheiro é capaz de gerar mais dinheiro. Marx considerava os juros como a abstração suprema do capital e tratava o capital a juros como uma espécie de fetichismo terminal. Outros autores conseguiram ver nos juros algo como a produtividade do capital.
Para alguns existiria uma taxa natural de juros, contraposta a taxas monetárias de juros. Houve quem visse nos juros o preço do tempo. E quem os encarasse apenas como expressão monetária da disposição dos banqueiros a emprestar dinheiro. Outros traduziram os juros no resultado do contraponto entre oferta e demanda por dinheiro na economia.
Mais recentemente, com a crise do sistema monetário internacional e a flutuação instável das taxas de câmbio, os economistas passaram a construir modelos estabelecendo relações entre as taxas de juros e as taxas de câmbio. Feliz ou infelizmente, nenhum funcionou.
Economistas do FMI, por exemplo, afirmaram em alguns documentos que os anos 90 serão de juros altos porque existe uma escassez de poupança no mundo. Os juros caíram. Depois subiram e agora caem de novo.
Nos últimos dez anos houve um erro estatístico médio, no registro das operações financeiras mundiais, da ordem de US$ 50 bilhões por ano.
Falta de medida é sinônimo de falta de controle. Ao mesmo tempo, se não há controle ou medida é muito difícil, para dizer o mínimo, afirmar se há ou não uma ``escassez de poupança".
O fato é que os circuitos financeiros globalizados envolvem hoje somas fantásticas, instituições desregulamentadas, operações invisíveis e uma dinâmica a tal ponto mutante que nenhum Banco Central ou organismo multilateral tem poder para colocar ordem no sistema monetário mundial.
Assim, a dificuldade prática se soma à controvérsia teórica. Os séculos passaram e o capitalismo mudou muito. Mas ainda estamos muito longe de entender esse fenômeno econômico extravagante: o ``valor da moeda" depende de fatores objetivos, como oferta e demanda, mas também e às vezes muito mais de operações especulativas cujo limite é apenas o da nossa própria imaginação. Que costuma ser mesmo diabólica.

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